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Astronomia e Astronáutica

Para cientista, salas de aula precisam de um novo professor de física

por Antonio Barros publicado 22/03/2017 20h58, última modificação 14/05/2018 15h00
Palestra do professor e pesquisador Jose Halayël-Neto integra eventos realizados no campus visando preparar estudantes para a 20.ª Olimpíada Brasileira de Astronomia.
Eventos preparativos da 20ª OBA

A palestra aconteceu no Auditório Cristina Bastos.

 O físico  trabalhou com o Prêmio Nobel  Abdus Salam no Centro de Física Teórica, Trieste, na Itália, entre outras atividades e integra a Sociedade Brasileira de Física. Na palestra ministrada no Auditório Cristina Bastos, na quarta-feira, 22/03, Helayël abordou as diferentes visões da luz através dos tempos. De acordo com o pesquisador, "a percepção científica da luz vem evoluindo e se complexificando ao longo do tempo. Têm muitas novidades a serem experimentadas sobre a luz e novas teorias que mostram comportamentos da luz muito diferentes daqueles que nós vínhamos vendo. É uma espécie de visão geral do que foi, o que é e o que virá a ser o nosso conceito de luz através dos tempos". Antes da palestra, ele concedeu a seguinte entrevista à Comunicação Social do Campus Campos Centro:  
 
O senhor vem fazendo uma abordagem sobre o pouco que ainda sabemos sobre o Universo...
 
 Até uns 30 anos atrás, na década de oitenta, a gente tinha a impressão de que conhecesse muito mais do Universo do que na verdade sabe hoje. O que conseguimos ver são 4% de visibilidade do Universo. Temos 96% do que chamamos de “escuro”, cuja composição não se sabe o que é. Tem várias teorias descrevendo esses 96% de universo escuro, mas nenhuma delas chega a concordar. Têm teorias que estão até em conflito. Mas basicamente o que temos compreendido através dos tempos é que a faixa visível do Universo tem se tornado cada vez menor do que pensávamos que o fosse. Isso é interessante, porque é um superdesafio para a ciência, para a física, a astrofísica e cosmologia do século XXI.
 

O IFF em parceria com outros institutos e a Agência Espacial Brasileira participa do projeto de produção e lançamento de nanossatélites. Unir esforços é uma saída para nossa ciência?

 Qualquer ciência hoje só se faz com parcerias. Não se consegue mais fazer ciência de nível, falando de pessoas individualmente ou instituições isoladas. O que existe hoje são grupos imensos de colaboradores dentro de um mesmo experimento. Por exemplo, aquele acelerador de partículas, o Grande Colisor de Hádrons, em Genebra, que é um experimento mundial, muito importante e tem sido realizado desde 2009 e deve se manter trabalhando até 2030, envolve cerca de 10 mil pesquisadores do mundo todo, inclusive do Brasil. Os eventos da astrofísica, observar o Cosmo, essas grandes plataformas de observação espacial, esses telescópios espaciais só existem porque muitas instituições de diferentes países, de diferentes continentes se uniram.
 
Um encontro de ciências?
 
 São experimentos altamente complexos, custosos e que precisam de várias visões científicas diferentes para olhar o mesmo fenômeno. Então envolve o que a gente chamaria de interdisciplinaridade. Tem que se olhar essas mesmas coisas com os olhos da física, da química, da matemática, da astronomia, da astrofísica, da física de materiais. Então, além de tudo, com os olhos da linguística, porque a comunicação científica se faz cada vez mais importante. É importante também você organizar projetos e convencer países patrocinadores, as agências patrocinadoras, da importância do projeto. Tem uma questão de marketing aí que o cientista sozinho não saberia fazer.
 
Nos anos 1980 víamos professores de matemática se adaptando para dar aulas de física. Como está o panorama da área hoje?
 
 O do Ensino Médio ainda está alarmantemente ruim no país. A Sociedade Brasileira de Física criou a Secretaria Nacional do Estudo de Física para poder criar programas de um projeto nacional de formação de professores de física. Os graduandos que entram nas universidades para fazer as licenciaturas e tornarem-se professores de física têm uma evasão que chega às vezes a 80%. De 100 pessoas que entram, no tempo certo se formam 10 e atrasados outros 10. E como você falou, isso continua: um professor de química dando aula de física, um professor de biologia dando aula de física. Existem até muitos relatos de advogados dando aula de física, dentistas dando aula de física, engenheiros tudo bem, mas são pessoas que dão aula de física porque elas gostam, mas são na verdade diletantes. Essas pessoas não se preparam para isso. Faz uma grande diferença, porque uma coisa é você ser um atravessador, outra é você viver a profissão, estar atualizado, saber dos grandes avanços.
 
É preciso um perfil?
 
 Um professor de física hoje tem de levar para a sala de aula isso que estávamos falando aqui: os grandes experimentos, as novas visões do Universo, do que é a sua matéria, energia, do que é pesquisa. Um professor precisa estar ligado a isso e não ficar simplesmente trazendo um formulário de equações em que os alunos aplicam fórmulas sem saber o que estão fazendo e sem nenhuma conexão com aquilo que tem significado no mundo de hoje.
 
Há uma desconexão...
 
 O aluno pega uma Super Interessante, uma Scientific American, assiste o History Channel sobre buraco negro, colisão de galáxias, ondas gravitacionais e fica interessado. Chega na sala de aula, não tem nada disso. O professor para poder tratar isso também em sala de aula tem de olhar mais para a curiosidade. Isso é conhecimento. Não basta só gostar de física. Tem de estudar e fazer física, tem de fazer uma pós-graduação. Esse é um projeto nacional que já está acontecendo há cerca de seis anos. Há uma grande preocupação em melhorar o ensino de ciências e, sobretudo, de física no país.