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Entrevista

Entrevista completa com o ator e poeta Valdemy Braga, ex-aluno do IFFluminense

por Comunicação Social do Campus Campos Centro publicado 16/08/2016 10h34, última modificação 16/08/2016 10h35

A tarde da sexta-feira 05 de agosto, recentemente passada, foi especial para o ex-estudante do curso Técnico de Informática do IFFluminense, Valdemy Braga. Tanto que na véspera ele se desmanchava pelo Face: “emoção que não cabe: depois de 17 anos eu retorno ao IFF (pra mim, Escola Técnica Federal, CEFET, rs) e como um PEQUENO PRÍNCIPE”. Com a performance, que conta parcialmente a história do encantador personagem do francês Antoine de Sant-Exupéry, Valdemy colhe reações de encanto e manifestações inusitadas de diferentes platéias. Seu retorno à instituição fez parte de uma programação especial desenvolvida para crianças de uma escola municipal de Campos dos Goytacazes pelo projeto de extensão Com Gosto de Férias. Valdemy sai, mas volta, e retornando apresenta novidades importantes para ele e qualquer aluno ou egresso: a vida segue e bem. O artista acaba de conquistar uma vaga em curso de mestrado de uma importante universidade inglesa. Após a apresentação do Pequeno Príncipe, ele concedeu a entrevista a seguir para a Comunicação do Campus.

 Como o público do interior tem reagido a esse espetáculo de um autor mundializado?

Valdemy Braga – Tenho estado surpreso com o resultado desse trabalho, desenvolvido à convite da Eletrobras-Goiás. Fiquei uma semana em Goiânia, em função do espetáculo. A Eletrobrás tem um compromisso com as comunidades onde está inserida. Foi apresentado a princípio para crianças, adolescentes e pais. Eu fiquei impressionado quando se fala na questão sonho, todo mundo fica, meu Deus eu tenho um sonho? Qual é esse sonho? É possível esse sonho? As crianças seguem muito bem o espetáculo. Quando tem o momento de conversar, quando me mandam um retorno depois, o que de mais interessante eu ouvi foi uma mãe dizer que ela não conseguia lembrar qual era o sonho dela. O espetáculo criou um certo constrangimento. Durante a apresentação, logo na cena inicial, quando eu falo de você ter um sonho e realizar esse sonho, na queda no deserto, uma mulher disse: “meu Deus, será que eu vivo no deserto, porque eu não lembro qual era o sonho da minha vida!”

 Isso foi marcante...

 Valdemy – Nossa! Demais! Em Goiânia teve o Ryan, eu jamais esquecerei esse nome, um menino de uns 13 anos, cujo sonho é ser piloto de Fórmula 1. Por acaso, depois da apresentação, eles dividiram vários pequenos grupos e a mãe estava atrás dele. Quando ele falava qual era seu sonho, ela balançava o dedo que não. Então eu falei: penso que a senhora é a mãe do Ryan, a senhora está na negativa... E ela: “é eu sou a mãe dele e jamais permitiria meu filho ser um piloto de Fórmula 1, por conta da dificuldade de chegar até esse local, do risco que impõe a profissão”. E ai eu retorno ao texto na parte em que falo da flor: “é preciso que eu suporte as larvas se quiser conhecer as borboletas”. Ai a mãe fica bem impactada na questão. Volto ao texto: “Olha, a gente vai limpar as folhas secas, adubar, limpar o chão, vai hidratar a arvorezinha, mas precisa chegar a algumas larvas para que tenha borboletas belas e bonitas para enfeitar não só a sua florzinha, mas o jardim inteiro”.

 Fica tenso às vezes?

Valdemy - É um espetáculo que me leva a um local de novidades a todo momento. Em São Fidélis fui a escolas públicas e agora umas particulares, faço o espetáculo na varanda de minha casa para amigos. Cada grupo tem um gosto, uma receptividade diferente. Então fico naquele estado de alerta. Como é uma peça em que interajo com o público, qualquer olhar, ou des-olhar me leva a uma situação do tipo: ‘que é que eu vou fazer agora?’ Como hoje, quando eu conto do Planeta do Vaidoso, pergunto se meu cabelo está bonito, a menina que estava sentada logo aqui na primeira fileira disse: “Não! Você tem de cortar esse cabelo, tem de pentear!” Ou eu ignoro, ou troco com ela que está me mandando um estímulo em uma cena. Não posso ignorá-la. Aí cantei “nega do cabelo duro, qual é o pente que te penteia? Qual é o pente que te penteia?”. Todo mundo riu e ela se sentiu à vontade porque não foi totalmente podada. É uma forma de trazer o público pra perto.

 Você tem uma ligação forte com a literatura também...

Valdemy – Eu sou da Academia Fidelense de Letras, poeta de São Fidélis e formado pela PUC Rio e na minha monografia discuto texto, trabalho dramaturgia. Tenho um blog chamado As insanidades de Valdemy.com onde pego minhas poesias, minhas crônicas e relendo esse trabalho eu sugiro o questionamento: há possibilidade de tornar um texto literário em um texto dramatúrgico? Sim, como? Que elementos eu preciso ter em uma poesia para torná-la uma cena, que ação? Na poesia a gente fica mais na questão do adjetivo e tudo mais. A dramaturgia é ação, é verbo. Então, como eu consigo tornar um predicativo, um adjetivo, num verbo e trazer para a cena? Na minha monografia eu discuto mais texto que propriamente a cena. A cena é uma proposta para meu mestrado na University of Essex, em que fui aprovado recentemente.

Você é ex-aluno do IFFluminense, em curso técnico, que prepara para o mercado, para a competência técnica e tecnológica. Isso trouxe uma contribuição para o artista?

 Valdemy – Acho o ensino do IFF extremamente criativo e libertador. Mesmo quando eu cursava o técnico em informática – quando ia fazer, por exemplo, a questão de programação viajava na cor do layout que estava fazendo. Na estruturação da fonte, da letra... Você para e pensa: que eu tenho no dia a dia que a informática pode me servir? Tem esse negócio de levar o aluno para o pragmatismo criativo. Acho que eu acabo usando um pouco disso também no meu trabalho. 

E Londres, e o futuro?

 Valdemy – Estou hoje numa certa inquietação porque fui aprovado para o mestrado, porém preciso de uma bolsa que me permita ir. O governo tem cortado a maioria das bolsas, até de amigos que já estavam fora estudando, por conta dessa tal crise mundial que vivemos. Mas eu tenho mais um ano de caminhadas e possibilidades. Estou à espera. Vou me escrever em bolsas que forem abrindo. Sobre Londres, posso falar que tenho apenas a expectativa de um milagre.

 Lá complementaria a sua formação?

 Valdemy – É um curso de mestrado em que discute-se a interpretação, cena para o teatro, cinema e televisão. Focando mais em teatro. A universidade, Excess, é uma referência em discussão e pesquisa em William Shakespeare, o que me deixa muito feliz porque tenho uma paixão pelo trabalho dele. Uma das minhas cenas para aprovação no mestrado foi de Shakespeare e eu acho que vai ser um divisor de águas, principalmente por eu estar na Europa. Poderei conhecer o teatro francês, tenho uma mega curiosidade de conhecer o teatro russo. Vou estar fora de meu país, com uma cultura diferente, um idioma diferente. O próprio curso da Essex é confeccionado com alunos de diversas partes do mundo. Não são apenas londrinos estudando, europeus estudando e um brasileiro no meio. Não. É um brasileiro, é um argentino, um canadense, um americano, um russo, um angolano e a gente faz aquela aula lá e participa e cria artisticamente.

Antonio Barros - Comunicação social do Campus Campos Centro