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Pesquisadora discute no IFF a problemática da cultura do carro pra tudo

por Comunicação Social do Campus Campos Centro publicado 20/07/2018 19h37, última modificação 26/07/2018 12h45
Mobilidade Urbana

A pesquisadora Marina Kohler Harkot (Foto reproduzida de seu perfil no Google+)

Antes de ministrar no campus a palestra Planejar para mobilidade ativa: Cidades de bicicleta e a pé, a cientista social Marina Kohler Harkot conversou com a Comunicação do Social sobre os problemas gerados ao se "banalizar o uso do carro".  Ela atendeu a convite dos organizadores do Seminário de Integração entre Pesquisa, Pós-Graduação e Graduação, evento realizado na quinta-feira, 20 de junho. Marina é mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.  

 Falando sobre problemas urbanos, como a ocupação de calçadas e os reflexos no dia a dia do cidadão, Marina observa que "a questão nem deveria ser a ocupação das calçadas. Quanto mais os comércios tiverem da porta para fora, melhor. Quanto mais gente estiver do lado de fora, nas ruas, mais viva vai estar a cidade, mais seguro a gente se sente, mas interessante fica a cidade". O ponto, nessa questão, é a transformação negativa sofrida pelo espaço urbano: "o problema é a gente achar que o espaço do carro é intocável, muda a calçada e a mobilidade é reduzida, o idoso, o carrinho de bebê..." 

A cientista social chama atenção para o fato de não questionarmos o espaço que o carro ocupa nas cidades. "A gente está privatizando um espaço que é público, o mais importante da cidade, o espaço do encontro, da circulação, um espaço que é finito com a circulação de carros, que além de tudo ainda trazem um bocado de problemas de todas as ordens", ressalta ela. 

Recurso Público - Marina Kohler aponta alguns dos problemas contemporâneos resultantes da opção pelo carro: "Com o carro vem todo uma cultura de lugares fechados. Dos shoppings, dos estacionamentos, dos condomínios fechados. Dos muros pra fora, o contato com a cidade é zero". Para agravar a questão, não há uma opinião hegemônica de reação à supremacia da cultura do carro. Nessa reação estão "a academia, setores da sociedade civil e um ou outro político" que coloca o tema em pauta.  

- Parece uma associação muita complexa, mas é muito fácil a gente perceber a diferença que faz políticas que restrinjam o espaço e o uso do carro e tudo mais. É recurso público. A gente está falando de recapeamento, de asfalto, inundações. O que paga isso é uma boa parte de recursos públicos, de pessoas que não usam essas vias da mesma maneira - observa Marina.  

Transporte Público - A redução do número de ônibus e sua substituição por vans, uma questão muito atual em Campos dos Goytacazes, traz outra reflexão da pesquisadora:

- Essa é uma discussão muito importante. A gente paga muito caro pela tarifa do ônibus. São poucas as cidades brasileiras que têm um nível (de qualidade do serviço). Na verdade, a tarifa de ônibus poderia ser subsidiada de várias maneiras. Existe uma discussão sobre o uso da CIDE, um imposto que recai no custo da gasolina, para subsidiar o serviço de ônibus. Haveria um efeito brutal sobre o número de viagens de ônibus. A partir do momento em que a tarifa é cara, as pessoas pensam duas vezes entre pegar um ônibus caro e serviço de qualidade ruim, ou pagar um pouco mais e ter seu próprio carro. 

A pesquisadora também chama atenção para a urgência de se repensar o financiamento do transporte público, "um serviço básico para a população". O nível de informação para a sociedade é baixo. "A gente sabe muito pouco pra onde o dinheiro da tarifa pública vai. Tem também uma questão de transparência que é muito importante para reorganizarmos nosso sistema de ônibus e para a gente conseguir um serviço público de qualidade. Não é uma questão que a gente pode dar uma pausa e voltar a discutir daqui há 10 anos".