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Entrevista

Professor do IMPA defende mais atenção à abstração no ensino de matemática

por Antonio Barros publicado 17/12/2018 19h09, última modificação 18/12/2018 17h36
Eduardo Wagner ministrou palestra e concedeu entrevista à Comunicação Social do Campus Campos Centro do IFF.
Entrevista / Eduardo Wagner

O professor Eduardo Wagner ministra palestra para estudantes e professores (Foto: Diomarcelo Pessanha/Núcleo de Imagens do IFF)

Mestre em Matemática pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e membro do Comitê Executivo da Olimpíada Brasileira de Matemática, o professor Eduardo Wagner fez palestra no Campus Campos Centro, no dia 13 de dezembro. Após a palestra, ele concedeu a seguinte entrevista para a Comunicação Social:

O senhor falou em uma escola que tem a particularidade de também formar professores de matemática. Que recados procurou deixar?

Procurei primeiro enfatizar o valor das olimpíadas de matemática, porque isso é realmente um fenômeno mundial; mas também de outras coisas que considero importantes para os professores, como um pouco da história do ensino de matemática recente, no Brasil e no mundo.  Também o problema que estamos vivendo da excessiva contextualização. Muitos professores ficam preocupados que tudo tem de ser do mundo real, não pode haver nenhuma abstração e, ao contrário, o raciocínio abstrato é aquele que vai produzir a tecnologia do futuro. Ser concreto é bom, viver no mundo concreto é necessário, mas não é suficiente para o desenvolvimento do país. Se um dia quisermos desenvolver qualquer tecnologia, é preciso passar a matemática ao nível abstrato. Um dos recados que procurei dar é que eles sejam críticos em relação às falsas contextualizações. Com essa exigência de que tudo tem de ser contextualizado, muitas vezes inventam-se coisas irreais e isso é muito prejudicial ao aluno. Depois procurei abordar temas que sejam relevantes para o ensino médio.

Por que temos dificuldades em lidar com o abstrato?

Simples: falta de prática. Você só consegue ser familiar no mundo abstrato entrando nele um bocadinho de cada vez e persistindo. Aí você vai começando a ter familiaridade com esse novo mundo, que não depende mais dos objetos, e sim das ideias. Isso, como todo aprendizado, não ocorre da noite para o dia. É preciso perseverança e prática em viver nesse mundo novo, fascinante, que é o mundo das ideias.

Pode haver contribuições importantes no ensino básico que ajudem a trabalhar com essas ideias?

Se você se sente familiar no mundo abstrato, pode aplicar aquelas coisas de volta ao mundo concreto em diferentes situações. Uma vez, por exemplo, que o menino tenha adquirido o que significa somar de forma abstrata, não precisa somar só laranjas. Pode somar qualquer coisa que ele quiser. Ele aprendeu abstratamente o que é soma, o que é adição. Então, ele pode aplicar no mundo concreto novamente. 

O senhor é um quadro do IMPA. Como vê o envolvimento das escolas com a Olimpíada de Matemática?

Esse fenômeno é mundial. Claro que as olimpíadas não conseguem influenciar todo mundo, nem é o objetivo. Mas uma pequena parte é realmente influenciada, inclusive o aluno João Pedro Marciano (estudante do campus), que conquistou uma medalha de ouro na olimpíada e vai estudar comigo na Fundação Getúlio Vargas ano que vem.  Ele declarou que só atingiu esse estágio por causa das olimpíadas. Ficou curioso de saber como era, fez uma olimpíada, gostou – não foi premiado – fez no ano seguinte, foi medalha de prata. Tentou muitíssimo e aí foi medalha de ouro. Agora está com a vida encaminhada. Então, essa influência existe, é fortíssima!

Tem capilaridade na escola, no sentido de motivar o aluno que acha que matemática é complicada?

Sim. É como eu disse: não se atinge a todos, atinge-se uma pequena parte, mas é uma pequena parte que vale muito à pena e que, se não fosse essa atividade, estaria relegada à mesmice das atividades antigas.