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Evasão e permanência nos cursos carecem de estudos, afirma pesquisadora

por Antonio Barros publicado 12/04/2017 17h33, última modificação 13/04/2017 14h40
Para a professora e pós-doutora, Alcina Maria Braz, as duas áreas devem ser estudadas separadamente; Pesquisadora também vê avanços no diálogo entre áreas do saber.
Entrevista com a professora pesquisadora Alcina Maria Braz

A professora Alcina Braz em palestra no Campus Campos Centro do IFF (Felipe Oliveira/Núcleo de Imagens do IFF)

   A professora pesquisadora Alcina Maria Testa Braz da Silva, do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), esteve no campus no dia 31 de março para ministrar a palestra intitulada "Qualidade do Ensino em Tempos Sombrios". O convite partiu do Núcleo de Estudos sobre Acesso e Permanência na Educação (Nucleape) do IFF. Graduada em Física e pós-doutora pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FAE-UFMG), a professora Alcina é pesquisadora permanente no Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ciência, Tecnologia e Educação (PPCTE) do CEFET-RJ e no Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ensino de Ciências do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. Tem experiência nas áreas de Educação e Psicologia Social, com ênfase em Ensino de Ciências e Representações Sociais, entre outras qualificações. Após a palestra, ela concedeu a seguinte entrevista à Comunicação Social do Campus Campos Centro:

 Qual a importância do engajamento dos profissionais de educação na defesa dos núcleos de pesquisa dedicados a pensar e propor novas abordagens para o ensino aprendizagem?

 Hoje estamos com problemas de financiamento, de recursos escassos. Esses núcleos, muitos estão consolidados, cresceram, ganharam uma dimensão dentro da pesquisa, dentro do ensino, extensão, da inovação nos últimos 15 anos. Não adianta agora, apesar de todas as dificuldades, nós pararmos e cruzarmos os braços. Porque o que vai acontecer é que eles vão desaparecer, vão implodir. O que precisamos fazer é brigar pelos recursos, brigar pela possibilidade de reativarmos programas com o Obeduc, o Life, programas que permitiram que esses núcleos existissem. Mas, enquanto isso, temos de continuar trabalhando porque, a qualquer momento em que cruzarmos os braços, vamos estar dando oportunidade para que a diluição, o desmembramento desses grupos aconteça mais rápido. Então é: não parar o nosso trabalho, os projetos que estão em andamento, os projetos em que, na verdade temos muitos resultados para analisar e brigarmos, trabalhando, para que os recursos cheguem.

O Núcleo de Estudos sobre Acesso e Permanência na Educação (Nucleape) do Instituto constatou que nossa média de evasão é da ordem de 50%. Trata-se de um problema nacional?

 Sim. Estamos tendo uma evasão muito alta, por áreas inclusive, algumas mais altas que outras. Essa questão da permanência é muito importante e é pouco investigada. Tem pouco artigo ancorado em pesquisa que esteja realmente discutindo os motivos da evasão e os da permanência. Evasão, na verdade, precisa ser separada da ideia de permanência. São dois conceitos diferentes, embora interligados. Mas eles precisam ser olhados separadamente. Só que você precisa depois entrecruzar os dados. Até para poder compreender porque a evasão é tão grande e a permanência tão pequena. Os motivos podem não ser exatamente um o oposto do outro. Eu vejo esse núcleo aqui e ele trabalha com permanência, está tendo resultados muito interessantes, pelo menos no que tange a educação de jovens e adultos, onde eu tenho acompanhado mais o trabalho. E essa discussão exatamente do que é evasão, do que é permanência e dos fatores envolvidos é o que merece uma atenção cuidadosa e uma análise muito acurada dos resultados que estão sendo coletados.

 A senhora falou na palestra ministrada no campus sobre a importância de trocas entre as áreas de conhecimento. Tem havido avanços?

 Tem havido bastante avanço, não foram poucos não. É que o diálogo é difícil! Na verdade o diálogo é difícil porque as áreas foram construídas ancoradas inclusive em racionalidades diferentes. Os modelos formativos foram diferentes e mudaram também em momentos diferentes segundo as áreas. Mas o diálogo é possível e não vejo outro caminho sem ser pelo diálogo entre a área de humanas, exatas, naturais e saúde. Entre todas as áreas do conhecimento. Em humanas podemos pensar nas sociais aplicadas, nas sociais; as áreas da educação, da arte... Seja como for, esse diálogo é fundamental! É possível, por exemplo, ensinar os conceitos da Física como índice de refração, reflexão, deflação, dispersão – conceitos luminosos, conceitos de óptica – trabalhando um filme, por exemplo, como Moça com um Brinco de Pérola. É possível fazer isso em sala de aula no Ensino Médio, porque a pesquisa nos mostrou isso. A pesquisa nos mostra que o diálogo é possível. Precisamos efetivá-lo na prática. Eu acredito realmente nisso.