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Ilê Sain a Oxalá conta em texto, canto e dança a história do negro no Brasil
O Ilê Sain a Oxalá no IFF.
Um encontro geracional com uma aula de história sendo contada ao som dos atabaques e da narrativa dos artistas participantes. Narrativa esta expressa pelo corpo, pelas cores e pinturas corporais que remetem a tribos africanas. Essa ambientação, enriquecida pela presença da comunidade do Campus Campos Centro do IFF, marcou mais uma Terça Tem Teatro. O convidado da terça-feira, 27 de novembro, foi o histórico espetáculo Ilê Sain a Oxalá, criado em meados dos anos 1980 e que teve sua primeira apresentação em Campos dos Goytacazes no dia do aniversário da cidade, 28 de março, em 1988.
A trajetória do negro no Brasil, seu sofrimento e o cenário de exclusão, ainda muito significativo nas denunciadas diferenças sociais brasileiras, integra a narrativa do texto lido e recitado pelos participantes do grupo. O texto é do jornalista e diretor teatral da cidade, Orávio de Campos Soares. A direção artística é da atriz Neusinha da Hora.
Iniciado em agosto de 2018, o projeto "Arte em Cena" tem duas vertentes: o "Terça Tem Teatro" e o "Sound Sexta". Os trabalhos têm a idealização e coordenação do professor substituto da Licenciatura em Teatro do IFF, Tom Borges. “O objetivo do projeto é fazer com que o IFF se torne um ponto de referência de cultura na cidade, abra as portas para as pessoas e elas entendam que a instituição pode ser um equipamento de cultura”, explica Tom. Também se pretende mostrar a produção artística feita na instituição, que oferece dois cursos na área: as licenciaturas em música (Campus Guarus) e teatro (Campus Centro).
O espetáculo foi apresentado na frente da Concha Acústica, na área externa do campus, e teve um público formado, entre outras áreas, por muitos estudantes de teatro. O fato de o Ilê Sain ser formado por pessoas de uma comunidade tradicional da periferia de Campos, a Baleeira, e serem elas estudantes e trabalhadores encantou visivelmente a plateia.
Consagração - No depoimento que deu à Comunicação Social do campus, após a apresentação, o professor Tom Borges contou que por pouco o grupo não compareceu. Houve dificuldade para o transporte dos integrantes, dos instrumentos musicais e figurinos.
- A gente não tinha o transporte para buscar os artistas lá na Comunidade da Baleeira, de onde eles vieram. Arregimentei, com os professores de teatro, o Uber para buscar eles. O retorno está garantido pela coordenadora do transporte, a Cláudia (Herrera), que sempre foi muito solícita com todas as demandas que a gente tem – detalhou Tom.
Integrante do grupo ao longo de décadas de trabalho, para Neusinha, o espetáculo foi a consagração, porque ela começou bem jovem e o Ilê transformou sua vida: “Uma questão não só de pertencimento, mas de identidade, entendendo qual é o meu papel aqui nessa sociedade, nesse planeta. Penso que ele pode contribuir com muito mais pessoas, no sentido de conhecer um pouco mais de sua história e entender porque a gente está sempre resistindo, sempre tendo que provar alguma coisa. Muitos estão pregando a consciência humana, sim, somos humanos, mas não podemos esquecer o quão desumanos foram com a raça negra. Acho que esse trabalho é bem específico pra gente entender o caminho”.