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IFFluminense em busca de maior representatividade feminina nos cargos de gestão

por Mônica Athayde Gonçalves publicado 11/12/2025 10h46, última modificação 11/12/2025 10h48
Depois de 10 anos do início das atividades, Polo de Inovação indica a primeira mulher para um cargo de chefia na área de inovação e propriedade intelectual.
IFFluminense em busca de maior representatividade feminina nos cargos de gestão

Juliana Vidigal, uma das poucas mulheres em cargo de coordenação na Embrapii (Foto: Divulgação/IFF).

 Apesar das mulheres brasileiras apresentarem maior escolaridade em relação aos homens, no mercado de trabalho, a desigualdade salarial persiste e se torna mais acentuada nos cargos de maior qualificação. Dados divulgados pelo IBGE mostram que, em média, as mulheres com ensino superior completo recebem cerca de 60% do salário pago aos homens com o mesmo nível de instrução. Na área de Pesquisa e Inovação não é diferente. Mesmo que a carreira no serviço público minimize a desigualdade salarial, nos postos de chefia os homens ainda ocupam 60% dos cargos gerenciais no Brasil, ainda segundo o IBGE.

 A baixa indicação de mulheres em posições de chefia nas diversas áreas do serviço público, incluindo a tecnológica, limita a representatividade feminina e a ascensão na carreira, além de reforçar que a luta pela valorização feminina no mercado de trabalho está longe de acabar.

 Contudo, a gestão do IFFluminense, que sempre demonstrou preocupação com as questões de gênero e a ampliação da participação feminina e das minorias em cargos de chefia, vêm ampliando a participação das mulheres em cargos-chave da Instituição.

 Depois de 10 anos de início das atividades do Polo de Inovação, uma mulher estará à frente da Coordenação da Unidade Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) do IFFluminense: Juliana Gonçalves Vidigal. Professora do Instituto Federal Fluminense - Campus Bom Jesus do Itabapoana, ela atua nos cursos de Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação (PROFNIT), no bacharelado em Ciência e Tecnologia de Alimentos e no Técnico em Alimentos da Instituição. Possui Mestrado (2003) e Doutorado (2010) em Ciência e Tecnologia de Alimentos e Graduação em Engenharia de Alimentos (2001) pela UFV. Há 15 anos na instituição, acumula experiência relevante em gestão institucional, em especial na gestão de políticas de inovação, de pesquisa e extensão.

 Nessa entrevista, Juliana fala dos desafios e da satisfação de ser mulher numa área onde os homens são referenciados por sua capacidade intelectual, e de suas expectativas nesse contexto como pesquisadora.

Portal do IFF: A gestão do IFFluminense tem sido proativa nas questões que abrangem gênero e minorias. Como o Polo de Inovação tem encarado esse desafio em seu ambiente de pesquisa e desenvolvimento, em consonância com as políticas institucionais de equidade e inclusão?

Juliana Vidigal: O histórico de participação das mulheres em projetos de PD&I no Polo de Inovação não é diferente de outras instituições, ele é muito pequeno. Infelizmente, observamos uma tímida participação de mulheres, pesquisadoras e estudantes bolsistas em detrimento à participação de homens nas mesmas atividades das equipes dos projetos. Quando se observa a participação de mulheres na coordenação dessas equipes, este número é ainda muito menor: dos 61 projetos EMBRAPII assinados até o momento no Polo nesses 10 anos, apenas cinco tiveram mulheres coordenadoras.

 O desafio é muito grande e envolve, por exemplo, a articulação com cursos que têm muito mais professores e discentes do gênero masculino e, consequentemente, trazer mulheres para participarem dos projetos é mais difícil. Por outro lado, tenho observado que as mulheres servidoras que já têm experiência em participação nos projetos não assumem a liderança das equipes, apesar de serem muito protagonistas nas prospecções, na implementação e no desenvolvimento dos projetos. Assim, os homens seguem contribuindo para as estatísticas e tendo o mérito da liderança com as mulheres no papel histórico de trabalharem, muitas vezes invisibilizadas, para o sucesso profissional dos colegas homens.

 Por aqui, pelo menos depois que cheguei, estamos cotidianamente levantando esse debate, conversando com as mulheres, chamando a atenção de todos para essa discrepância histórica. Desde as negociações, apresentações de propostas técnicas, elaboração de editais, montagem de bancas e condução das entrevistas para a seleção das equipes dos projetos, tentamos buscar a equidade. Mas é difícil e acredito que só avançaremos com ações afirmativas, que também estamos planejando para 2026, inclusive em parceria com outros Polos de Inovação da Rede EPT.

Portal do IFF: O que pode ser feito para que as mulheres avancem aos cargos de maior competência e liderança, como mostra a desigualdade na ocupação de chefias?

Juliana Vidigal: Acredito que, sem ações institucionais concretas e estruturadas, o avanço das mulheres aos cargos de maior competência e liderança tende a ser lento. Isso ocorre porque as desigualdades e os papéis socialmente atribuídos às mulheres ainda impactam diretamente suas trajetórias profissionais — e esses desafios também se refletem na nossa comunidade acadêmica. Para transformar esse cenário, é essencial que a instituição adote políticas de incentivo, mecanismos de apoio e iniciativas que promovam equidade nas oportunidades de formação, desenvolvimento e acesso às posições de chefia.

Portal do IFF: Sobre a participação feminina na inovação, já existe algum projeto?

Juliana Vidigal:  Sim. Já estamos discutindo internamente e tentando identificar junto ao setor produtivo demandas que envolvam necessidades específicas das mulheres. A ideia é que, à medida que firmarmos novos acordos de parceria, possamos estruturar projetos que contemplem essas temáticas e, sobretudo, formar equipes compostas por mulheres para desenvolver essas soluções. Esse é um grande desejo meu, um desafio pessoal que quero muito começar a colocar em prática em 2026.

Portal do IFF: E a pergunta clássica: qual desafio que você acha que será mais difícil dentro da área?

Juliana Vidigal: Acredito que o maior desafio será enfrentar uma estrutura que, historicamente, não foi pensada para que mulheres ocupassem espaços de liderança. Mas esse desafio eu enfrento desde a primeira função de gestão que assumi há anos e sem nenhuma experiência. Hoje, apesar da experiência, estar aqui nessa posição continua significando lidar com expectativas e comparações que pesam e, muitas vezes, com a sensação de precisar provar a própria capacidade o tempo todo. Isso é emocionalmente desafiador porque sabemos o quanto trabalhamos e entregamos, mas nem sempre esse esforço se converte em reconhecimento ou liderança.

 Ao mesmo tempo, me toca perceber como tantas mulheres brilhantes ainda permanecem invisibilizadas nas equipes de PD&I, isso quando conseguem chegar a essas equipes. Ver essa realidade de perto me despertou o interesse de ajudar a construir caminhos mais abertos, mais acolhedores e mais justos para as que vierem depois. Sei que isso envolve mudar práticas, estimular a participação feminina desde as etapas iniciais dos projetos e, principalmente, criar condições reais para que mulheres assumam o comando.

 Não é uma tarefa simples, sei bem. Exige coragem, diálogo e ações afirmativas institucionais bem planejadas. Mas encaro mais esse desafio na minha carreira com muito compromisso e propósito. Para mim, nesse sentido, além de ocupar o cargo de coordenadora da Unidade EMBRAPII IFFLU, é também abrir portas, fortalecer outras mulheres e contribuir para transformar uma cultura que precisa, urgentemente, ser mais plural e inclusiva.