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“Você precisa ser antirracista para que as mudanças possam acontecer”, diz professor durante o Novembro Negro

por Comunicação Social da Reitoria publicado 18/11/2020 17h26, última modificação 10/10/2023 13h04
Palestra “Como ser antirracista em um país como o Brasil?” foi realizada na tarde desta terça-feira, 17 de novembro.
“Você precisa ser antirracista para que as mudanças possam acontecer”, diz professor durante o Novembro Negro

Toda programação do evento está sendo transmitida online.

 Dentro da programação do Novembro Negro, evento do IFF realizado nesta semana, de 16 a 19 de novembro, foi ministrada a palestra “Como ser antirracista em um país como o Brasil?”, pelo professor Thiago Yuri Gomes Miranda, na tarde desta terça-feira, 17, com transmissão pelo IFFTube.

 Nascido em São Fidélis, Thiago também é poeta, escritor e ativista do movimento negro (ou ARTEvista, como diz). “Esta causa está comigo desde sempre, não consigo me imaginar enquanto ser humano, sem ser este militante”, disse ao iniciar o evento.

 Durante uma hora, Thiago trouxe reflexões sobre o racismo institucional no Brasil. “Alguém que nasce em um contexto racista precisa passar por uma desconstrução, que é uma desconstrução de vida. Temos muitas pessoas neste processo, que se entenderam racistas e não querem mais”, relatou, afirmando que o tema da palestra é uma provocação para que as pessoas percebam os seus pequenos atos racistas, que estão presentes na sociedade de forma estrutural e até cultural.

 Ele apresentou três conceitos principais para a discussão: primeiro, Lugar de fala. “Todos podem falar sobre racismo, mas temos que entender de onde eu falo, o lugar dessa pessoa, o lugar de privilégio. É preciso refletir de onde se fala. O seu lugar de fala. Este conceito vem para dizer que todos nós falamos de algum lugar e precisamos ser respeitados”. Segundo, o Argumento de autoridade. “Não está ligado à etnia da pessoa, mas sobre a sua propriedade intelectual – o que estudou, produziu, pesquisou”. E por fim, o Protagonismo. “Que é o que eu estou fazendo neste momento. É eu entender que por mais que uma pessoa possa falar sobre o racismo, possa lutar contra, o protagonismo é das pessoas negras. A gente não precisa que ninguém conte a nossa história por nós, a gente pode contar a nossa história”.

“Nossa capacidade de ouvir é essencial para que a gente possa entender o racismo”.

 Por meio de uma análise histórica e sociológica, Thiago mostrou como o Estado está diretamente estruturado na questão racial, perpetuadora das diferenças que separam negros e brancos. “Quando eu falo sobre racismo, a maioria diz que não é e acha que isso basta, mas quando você vive numa sociedade estruturada para ser racista, é preciso ser antirracista. Acabar com o racismo significa desestruturar a dinâmica e quem está no topo não quer porque pode significar uma inversão da estrutura. Você precisa ser antirracista para que as mudanças possam acontecer”, ressaltou.

 Ele explicou que o racismo estrutural se trata de um Estado que cria estruturas para que determinadas pessoas não cheguem a determinados lugares. Ele apresentou uma pequena linha do tempo que reforça esta realidade ao longo da história do Brasil, desde 1824, quando negros eram considerados seres semi-moventes. E ressaltou que foi só em 2012 que as cotas – importante política afirmativa – foram reconhecidas pelo Superior Tribunal Federal.

 Trouxe o caso da empregada doméstica para exemplificar o que aconteceu com o povo preto do Brasil: são seis milhões no país, sendo 97% mulheres e 82% negras. Em 2012, a PEC das empregadas foi aprovada e causou um rebuliço entre a classe média e alta. Contudo, a regulamentação da profissão só aconteceu em 2015. “E até hoje ouvimos falas ´é bom o dólar alto porque as empregadas domésticas estavam indo muito para a Disney´”, relembrou.

 A partir de dados estatísticos, o palestrante mostrou o descompasso entre negros e brancos nas áreas da Saúde, Educação, Violência e Distribuição de renda que reforçam as desigualdades estruturais da sociedade brasileira.

 “A distribuição de renda também tem cor. A pobreza também tem cor. O Brasil não vai resolver seus problemas enquanto não reconhecer seu racismo. A gente tem o mito da democracia racial, do canto das três raças, mas é um mito. E todas as vezes que a gente não se resolve com os nossos problemas eles não deixam de existir. E o Brasil não se resolveu”, disse.

 Thiago ainda apresentou um pequeno manual antirracista:

Manual antirracista
Informe-se sobre o racismo, os impactos da escravidão até hoje;
Enxergue a negritude;
Reconheça o privilégio da branquitude;
Perceba o racismo internalizado em você;
Leia autores negros, entenda o lugar de fala dessas pessoas, ouça pessoas negras;

  E encerrou dizendo: “Nossa capacidade de ouvir é essencial para que a gente possa entender o racismo”. 

 

Sobre o palestrante:

 Thiago Yuri é professor, poeta, escritor, e ativista (ou ARTEvista) do movimento negro. Autor dos livros "O poema nosso de cada dia nos dai hoje" e "poetas em construção". Laureado em vários prêmios literários no Brasil. Foi palestrante em feiras produzidas pela Associação Brasileira do Livro bem como bienais no interior do Rio de Janeiro. Licenciado em Letras pelo IFFluminense Campus Campos Centro. Especialista em Literatura Brasileira no Contexto Universal pela faculdade Metropolitana.

Instagram: @todosospretosdomundo 

 

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