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110 anos

Do nível médio ao doutorado, de Norte a Sul do Brasil

por Flávia Carpanedo (Assessoria de Comunicação Social do Instituto Federal do Espírito Santo) publicado 17/09/2019 15h45, última modificação 31/08/2023 12h56
Rede Federal busca promover a inclusão e o desenvolvimento tanto de pessoas quanto das diversas regiões do país, com sua oferta de cursos e interiorização.
Do nível médio ao doutorado, de norte a sul do Brasil

Rede Federal completa 110 anos com quase um milhão de estudantes em todo o país (Foto: Ifes/Conif).

 Com 661 unidades distribuídas entre 578 municípios brasileiros, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica oferta formação em todos os níveis e modalidades, desde os cursos técnicos de nível médio até o doutorado. Isso faz com que as oportunidades para qualificação e desenvolvimento de jovens e adultos cheguem a locais afastados das grandes metrópoles, de forma mais democrática e inclusiva, e ainda possibilita que as questões regionais recebam a atenção de uma comunidade acadêmica qualificada e interessada.

 A educação profissional tem em sua essência a união do aprendizado teórico ao prático, com um olhar crítico sobre o mundo. Assim, o estudante é incentivado a buscar soluções para os problemas cotidianos da região na qual está inserido. Por esse caminho, formam-se novos profissionais e pesquisadores conectados com as demandas locais, que abrem portas para si, para o mercado de trabalho e para aqueles que mais necessitam.

Carreira acadêmica completa – Um exemplo disso é Nelmício Furtado da Silva, que foi estudante do Instituto Federal Goiano (IFG) em todos os níveis de ensino: ao longo de quase uma década, ele cursou o Técnico em Agropecuária, a graduação, o mestrado e o doutorado em Ciências Agrárias, no campus Rio Verde. Além da formação em sala de aula, Nelmício foi bolsista de iniciação científica e trabalhou em projetos de pesquisa ao longo de todo esse tempo, o que garantiu tanto a sua permanência na instituição quanto um resultado científico-acadêmico expressivo – ao concluir o doutorado, já tinha mais de 80 artigos publicados.

 “Só consegui permanecer no curso porque logo descobri a iniciação científica, que oferecia bolsas para trabalhar com pesquisa”, lembra, destacando que a localização do campus também foi crucial, já que não seria possível fazer os cursos se tivesse que ir para outra região. “Essa oportunidade fez toda a diferença pra mim: ter tido as bolsas, a estrutura de laboratório, professores capacitados. Os gestores do IF estão sempre buscando coisas novas”, apontou.

 O doutorado, concluído em 2017, tratou da compreensão profunda sobre como a cana-de-açúcar absorve o nitrogênio presente na adubação. A região, conta o pesquisador, tem muitas plantações e usinas, que demandavam esse tipo de investigação e que já implementaram as descobertas do trabalho, apostando em doses e fontes mais eficientes do nitrogênio para melhorar todo o desenvolvimento das plantas.

 “Por aqui, temos muitos problemas para resolver, e se eu fosse pra outro lugar do Brasil jamais trabalharia isso. É uma oportunidade de desenvolver ciência onde é necessária. Em outras áreas, as pesquisas já chegaram a níveis mais elevados, em outros assuntos. Aqui, às vezes, precisamos de coisas básicas que não tinham sido pesquisadas ainda”, destaca. Hoje, aos 31 anos, Nelmício segue trabalhando como pesquisador em empresas, voltado à parte de nutrição de plantas, e também se tornou professor de uma universidade.

Acesso e acessibilidade – A inclusão é um dos pilares que orientam a atuação da Rede. No Instituto Federal do Amazonas (Ifam), duas estudantes surdas foram responsáveis pela primeira defesa de trabalho na Língua Brasileira de Sinais (Libras) do Curso Técnico em Segurança do Trabalho do instituto. Partindo de suas próprias experiências e também de outros estudantes surdos na instituição, Gleiciane Pedrosa, 28 anos, e Tamires Barrocas, 32 anos, abordaram as limitações e potencialidades da acessibilidade para surdos no Ifam.

 Gleiciane destaca que decidiu ingressar no curso justamente para buscar experiência e conhecimento para ajudar outros surdos, já que percebia uma ausência de informações acessíveis da área de segurança do trabalho. Tamires conta que isso foi abordado no trabalho apresentado, incluindo a necessidade de produção de mais materiais em libras e treinamento de servidores. Ao final, elas concluíram que a melhoria da comunicação entre ouvintes e surdos pode ampliar a condição de segurança de todas as pessoas que convivem no espaço acadêmico.

 A apresentação do trabalho foi realizada no dia 2 de julho, no campus Manaus Centro. Gleiciani acredita que o Instituto Federal ofereceu a elas a oportunidade de aprender olhando para questões práticas, do cotidiano, e que a partir disso conseguiu mais conhecimento para ajudar os surdos. Ela já ingressou em um curso de Pedagogia e faz planos de se tornar professora. Tamires está enviando currículos e espera conseguir um emprego na área, que será a realização de um sonho.

Formar para transformar – Mais que ofertar cursos de formação profissional e tecnológica, os institutos federais vêm desempenhando um papel transformador na vida de pessoas e comunidades no interior do Brasil. A presença das instituições já é um fator que altera as perspectivas para a população, conforme conta Lindomar Mota Silva, 30 anos, que é técnico de nível médio em Agroecologia e aluno do tecnólogo na mesma área, pelo campus Ipanguaçu, do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN).

 “Se não existisse esse Instituto no interior do Vale do Açu, acredito que muitos como eu, de origem humilde, não teriam a mínima possibilidade de desenvolver uma compreensão crítica do mundo, ao mesmo tempo em que se torna um profissional capacitado. A qualidade do ensino supera todas as escolas públicas e privadas da região”, comenta. “Eu pude olhar para o meio onde vivo com otimismo, pois agora consigo perceber que é possível viver bem sem sair da zona rural.”

 Filho de um agricultor e uma pescadora, Lindomar destaca ainda os projetos de pesquisa e extensão, que permitem trazer melhorias para quem vive na região, marcada por ciclos instáveis de chuvas. Ele atua no Núcleo de Estudos em Apicultura no Semiárido (Neapis), que promove a criação de abelhas, e no Núcleo de Extensão e Prática Profissional em Agropecuária (Neppagro).

 A extensão se tornou uma paixão para o estudante. “Não é só o dinheiro que traz a felicidade, mas ver no olhar do outro a esperança e saber que eu pude contribuir na sua construção. Não existe nada mais empolgante do que ver que você fez parte de algo que torna uma família humilde mais feliz.”

 A ideia dele, ao se formar, é continuar nessa área, promovendo ações de extensão rural, educação do campo e formação política, para “garantir dignidade para esse povo que tanto merece nosso respeito”.

 Seu desejo é que houvesse mais políticas públicas para estimular os egressos a permanecer por mais tempo envolvidos na solução das questões locais, prestando assistência aos pequenos agricultores, e transcendessem a ideia de simples colocação no mercado de trabalho. “Devemos trabalhar para garantia da sobrevivência humana com dignidade, e não somente trazer riqueza financeira para o país”, finaliza.