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Pesquisa desenvolvida no IFF Bom Jesus testa alternativas para antibióticos usados em codornas
Manter a saúde intestinal das aves poedeiras é determinante para o sucesso da produção de ovos, uma vez que é por meio desses órgãos que os nutrientes são absorvidos pelo organismo dos animais. Para tanto, antibióticos são incluídos à ração em doses subterapêuticas, já que a criação sem o cuidado com a saúde intestinal das aves se torna inviável, em especial no sistema intensivo. O uso dessas substâncias, contudo, tem gerado preocupação nos consumidores de carne e outros produtos de origem animal, pois vêm se conscientizando a respeito das consequências do uso indiscriminado dos antibióticos. Nesse sentido, a busca por alternativas para esses medicamentos tem pautado pesquisas ao redor de todo o mundo, inclusive no Instituto Federal Fluminense Campus Bom Jesus do Itabapoana.
Iniciado em 23 de maio de 2020, o experimento é fruto de uma parceria com a empresa Uniquímica e a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Propõe a testagem em codornas de substâncias que teoricamente possuem potencial bactericida, mas sobre as quais ainda não há informação suficiente para comprovar sua eficácia. Conduzido pela técnica em agropecuária formada pelo IFF Bom Jesus, zootecnista e atual mestranda da UFES, Hortência César Gonçalves, sob orientação dos professores José Geraldo de Vargas Junior, da UFES, e Will Pereira de Oliveira, do IFF Bom Jesus, a pesquisa analisa o uso de ácidos orgânicos, prebióticos, probióticos e a combinação entre eles na ração oferecida às aves. O desempenho será comparado ao do uso de antibióticos.
São nove codornas por gaiola, sete tratamentos e nove repetições por tratamento, totalizando 567 aves, selecionadas conforme a faixa de peso. A pesquisa tem duração de três meses, durante os quais são avaliados parâmetros de desempenho, como consumo de ração, produção de ovos e ganho de peso dos animais; e parâmetros de qualidade do ovo, como peso, altura do albúmen e da gema. “No final das contas, o produtor vai querer saber o desempenho. Ele não vai querer trocar o antibiótico por um alternativo que reduza a produção”, explica Will. O professor afirma que a equipe compreende ser difícil conseguir a mesma eficiência do antibiótico, que é muito específico, mas as expectativas são boas para a proposta.
Trabalhar com codornas é uma das paixões de Hortência, que encontrou na estrutura oferecida pelo IFF Bom Jesus a possibilidade de dar continuidade aos estudos, mesmo durante o período de distanciamento social ocasionado pela pandemia da Covid-19. A rotina no galpão é acompanhada por ela e Will, com a ajuda de dois estudantes do Curso Técnico Integrado em Agropecuária do IFF Bom Jesus. Matheus Pontes Hubner, do terceiro ano, e João Vitor Magalhães de Oliveira, do segundo ano, chegam cedo ao local. Às 7h as cortinas são abaixadas, os ovos coletados e contados, os registros anotados e as diferentes formulações de ração distribuídas nos comedouros. Três vezes por semana o local é lavado e a cada 21 dias produzem um novo lote de ração, contendo milho, soja, óleo, calcário, fosfato, aminoácidos, vitaminas e minerais.
Para João Vitor, que ainda não cursou a disciplina de Avicultura, tudo é novidade e o aprendizado tem tornado a participação na pesquisa ainda mais interessante. “Eu nunca tive contato com aves para fazer esse tipo de estudo. Então estamos adquirindo experiência e melhorando o currículo com novos conhecimentos”, conta.
Matheus, aluno do terceiro ano, já conhece a teoria e tem tido a oportunidade de colocá-la em prática, o que considera divertido. Até o momento, a atividade mais interessante, segundo ele, foi a análise dos ovos em laboratório. Como os laboratórios do Campus Bom Jesus estão fechados, devido à suspensão das atividades durante a pandemia do novo coronavírus, a equipe foi recebida no laboratório de bromatologia da UFES, em Alegre – ES. “Medimos ovo por ovo: qualidade, peso, para fazer o controle. Eu não tinha nenhuma noção de que era assim que funcionava e achei muito legal”, lembra Matheus.
A etapa de coleta de dados termina neste sábado, dia 15 de agosto. A próxima fase será de análises. “Espero poder encontrar diferença estatística para que meus resultados possam contribuir para meu objetivo”, anseia Hortência.
Novidade – Além da contribuição para a ciência, graças à pesquisa os cursos do IFF Bom Jesus também ganharão mais um laboratório para aulas e desenvolvimento de novos estudos. O galpão preparado para a criação de codornas ficará disponível para a instituição e, segundo o professor Will, a ideia é tornar o ambiente multidisciplinar. “A criação de codornas no IFF não vai atender apenas o curso de Agropecuária, mas também outros segmentos, como os cursos técnico e superior na área de Alimentos; também o de Meio Ambiente, afinal, temos produção de resíduos; dá pra informatizar o galpão e analisar parâmetros referentes a temperatura, por exemplo. É um laboratório de ensino e de pesquisa. Embora estejamos começando ainda, dá pra fazer muita coisa”, analisa.
A criação de codornas ainda não está prevista no conteúdo programático do Curso Técnico em Agropecuária, mas a estrutura adaptada para o desenvolvimento da pesquisa possibilitará a inclusão de mais uma atividade produtiva ao currículo. Will afirma que há grande potencial para produção de codornas na região de Bom Jesus do Itabapoana, onde o consumo de ovos é grande. Atualmente, o local mais próximo com produção intensiva fica a cerca de 200 quilômetros da cidade.
Sebastiana Azevedo, coordenadora do Curso Técnico em Agropecuária do Campus Bom Jesus, acredita que essa é mais uma oportunidade para os estudantes, que poderão prestar assessoria técnica especializada ou empreenderem na área. “A coturnicultura vem apresentando um desenvolvimento significativo nos últimos anos e os Institutos Federais têm como objetivo o desenvolvimento regional. Nossa região é formada por pequenos produtores, temos também agricultura familiar, e a coturnicultura veio para ser uma oportunidade para eles. É um investimento de baixo custo e nossos alunos, aprendendo sobre o assunto, vão conseguir empreender na área e até mesmo orientar aqueles pequenos produtores ou agricultores familiares que estão desenvolvendo isso em sua gleba”, explica.