Notícias
PALESTRA
“Não há conflito entre petróleo e sustentabilidade”, diz ex-diretor da Petrobras
Ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella dialogou com estudantes das engenharias do IFF Campos Centro.Fotos: Vitor Carletti/ Ascom Centro
Embora avalie a transição energética como uma realidade necessária para os próximos anos, o ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, entre 2003 e 2012, Guilherme Estrella afirmou que é possível conciliar o uso de combustíveis fósseis com a sustentabilidade cujo princípio central é estimular menos emissão de carbono na natureza como medida fundamental para combater o efeito estufa e suas consequências dentre as quais o aumento da temperatura global.
Líder da equipe da Petrobras que descobriu petróleo na camada do pré-sal, Estrella ministrou a palestra “A importância do pré-sal para o desenvolvimento nacional” a um auditório lotado de estudantes das engenharias Mecânica, Elétrica, Computação e de Controle e Automação do Instituto Federal Fluminense (IFF) Campus Campos Centro. O evento ocorreu no Cristina Bastos nesta quarta-feira, 18 de setembro.
Para Estrella, o caminho da conciliação entre exploração do petróleo e meio ambiente passa pela conservação das florestas. “Lembrando que o grande capturador de CO2 é a floresta. Então, podemos produzir petróleo e conservar as nossas florestas para mantermos uma matriz energética tão bem equilibrada como nós temos. Não há conflito entre petróleo e sustentabilidade. É isso o que eu quero dizer”, afirma.
A palestra foi organizada pela Coordenação do Curso de Engenharia Mecânica do IFF Campos Centro e contou com a participação do ex-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia Luiz Antônio Cosenza, do vice-presidente do Sindicato dos Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro Clóvis Francisco do Nascimento e do diretor-financeiro da empresa Mútua Pietro Rostagno.
Portal do IFF— O senhor foi diretor da Petrobras na época da descoberta do pré-sal. Hoje, traz essa palestra sobre a importância para o desenvolvimento econômico brasileiro..
Guilherme Estrella — Desenvolvimento econômico e social brasileiro. Não é só econômico. É econômico, é tecnológico. O pré-sal tem muita tecnologia, engenharia nacional e das geociências brasileiras. O significado do pré-sal é amplo em termos de Brasil. Por isso, eu tenho imensa satisfação de estar aqui no IFF de Campos, ainda mais falando com o futuro do Brasil que está aqui dentro. Fiquei muito honrado com o convite do IFF.
Aqui a gente tem várias engenharias que formam profissionais para atuar, principalmente, na Bacia de Campos. Como o senhor vê o hoje esse cenário e essa formação acadêmica?
A indústria petrolífera como um todo e — vamos falar na área de exploração e produção — tem um leque muito aberto de atividades técnicas e científicas que entram desde de geólogos e toda uma gama de especialidades em engenharia, mecânica, elétrica, eletrônica, e todas elas.
A exploração de petróleo exercida por uma companhia estatal como é a Petrobras, que precisa ter compromisso com o Brasil, ela emprega os jovens brasileiros para que operem as suas jazidas de exploração e de produção. Eu acho importante, porque nós estamos aqui em Campos, praticamente em frente da Bacia de Campos, e a formação de engenharia nesta região é fundamental.
É preciso que esses campos (de exploração de petróleo) sejam preservados e não sejam abandonados, porque o emprego da engenharia não se dá só na exploração, se dá na produção, mas também na manutenção da produção.
O auditório ficou lotado com a presença de estudantes do IFF Campos Centro
O petróleo é uma riqueza extraordinária, que é energia, que é a base do desenvolvimento e da soberania das nações. E isso no Brasil não é diferente. As engenharias são aplicadas desde o início até o final do campo em 20, 25 e 30 anos. Mas é necessário que a empresa recupere os seus investimentos. Não adianta nós operarmos como uma companhia privada que objetiva o lucro na maior parte possível. Somos uma empresa do Estado e temos compromisso com o Brasil. E um dos nossos compromissos é manter nossos campos produzindo o máximo possível para experimentar da melhor maneira possível as reservas que estão lá embaixo.
O que é muito cobrado hoje é o compromisso dos governos com os princípios da sustentabilidade. Como as universidades e os institutos federais podem contribuir para formar esse profissional?
Primeiro, vamos estabelecer o seguinte: estamos entre as 10 maiores economias do mundo e temos a matriz energética mais bem equilibrada desses países todos. A nossa matriz energética é 50% fóssil e 50% (de energia) renovável. Isso já é uma grande contribuição brasileira para a transição energética global que é necessária e precisa acontecer nas próximas décadas.
Segundo: nós consumimos muito pouca energia ainda. O Brasil, como a nona economia do mundo, certamente é um dos que consomem menos energia. E consumo de energia representa indústria, bem-estar da população, competitividade nas indústrias. Nesse clima de melhoria contínua na diminuição de emissão de CO2 e gases poluentes, metano também, aí entra a engenharia. Não é dizer que no estágio em que nós estamos vamos continuar assim. Vamos continuar a produzir petróleo e gás natural, mas com o esforço permanente de eles serem cada vez menos poluentes e mais contributivos na produção de energia.
Lembrando que o grande capturador de CO2 é a floresta. Então, podemos produzir petróleo e conservar as nossas florestas para mantermos uma matriz energética tão bem equilibrada como nós temos. Não há conflito entre petróleo e sustentabilidade. É isso o que eu quero dizer.