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NOVEMBRO NEGRO

Debate sobre apagamento do protagonismo negro abre Semana da Consciência Negra

por Vitor Carletti | Assessoria de Comunicação Social do Campus Campos Centro publicado 18/11/2025 16h10, última modificação 18/11/2025 16h10
Os estudantes assistiram ao curta-metragem “Nilo, o presidente negro” e tiraram dúvidas sobre práticas racistas. A programação vai até segunda-feira, 24 de novembro.
Novembro Negro

A produtora do curta-metragem Diane Lizst e os professores Marcos Abraão (centro) e Rodrigo Rosselini debateram como o racismo apaga os feitos de personalidades negras no Brasil.Foto: Vitor Carletti | Ascom Centro

 O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), do Instituto Federal Fluminense Campus Campos Centro, vai promover de 17 a 24 de novembro palestras e oficinas sobre racismo e valorização da cultura da população negra na Semana da Consciência Negra.

 A palestra de abertura aconteceu nesta segunda, 17 de novembro, no auditório Reginaldo Rangel, onde estudantes e servidores puderam assistir ao filme curta-metragem “Nilo, o presidente negro” e debater como o protagonismo de pessoas negras foi ao longo tempo sofrendo um processo de apagamento pela sociedade brasileira.

 Estrela do curta-metragem, a história de Nilo Peçanha começou em 1867, ano em que nasceu em Morro do Coco, distrito de Campos dos Goytacazes. Anos mais tarde, o campista chegou à Presidência da República, em 1909, e se tornou o primeiro presidente negro da História do Brasil.

 O debate expôs jornais da época que descreviam de forma racista e pejorativa o político que também foi governador do Estado do Rio de Janeiro e Senador da República.

 Coordenador do Neabi, o professor de Sociologia Marcos Abraão afirmou que é preciso reparar essa trajetória de apagamento das realizações de personalidades negras, como é o caso de Nilo Peçanha que é conhecido como o patrono da educação profissional e tecnológica no Brasil, quando inaugurou, em 1909, a Escola de Aprendizes e Artífices, em Campos, onde funciona hoje o IFF Campos Centro.

 O docente cobra que as escolas cumpram a lei que determina o ensino da história africana no Brasil. “O primeiro caminho, eu estou aqui no IFF, que é uma instituição de ensino, que a lei 11.639, de 2003, que é o estudo da história africana e afro-brasileira seja efetivamente implementada nos currículos das escolas”, afirma.

 Abraão disse ainda que o combate ao racismo será mais eficaz após a sociedade brasileira considerar o negro como protagonista da História do Brasil.

 “Esse é um ponto fundamental para que a nossa história, a nossa herança africana, a nossa herança que nos faz ser brasileiro, como também é a nossa herança europeia, que a gente tanto aprende em currículos como Revolução Industrial, Revolução Francesa e construção do mundo moderno, mas que a nossa história africana e afro-brasileira seja posta em pé de igualdade. Esse é um caminho fundamental para que a gente tenha efetivamente um protagonismo, não como excepcionalidade, mas que a gente consiga mostrar que negro é um protagonista, sim, da história assim como o branco e que seu apagamento é fruto de um processo histórico de racismo, que é um dos traços que molda a nossa sociedade”, explica.

Escravidão — Professor de História do IFF Campos Centro, Rodrigo Rosselini participou da mesa-redonda e explicou por que a escravidão dos negros, mesmo que abolida desde 1889, tenha reflexos ainda presentes na sociedade brasileira.

 “Eu costumo dizer que a gente alguns momentos importantes da nossa história que poderia ter dados passos importantes. Um deles é a Independência, da formação do Estado Nacional. Naquele momento, os homens que detinham o poder, optaram por construir um Estado onde fosse possível manter a concentração de terras e a escravidão. Então, quando se fala em racismo estrutural, é que, de fato, a estrutura sob qual se construiu a nacionalidade e o Estado brasileiros têm como principais pilares a escravidão negra. Mesmo abolida essa escravidão, a negritude está presente na nossa sociedade e ela é associada sempre à escravidão”, disse.

 Rosselini acredita que é por meio da educação que o racismo deve ser combatido. “A escola é um bom espaço para se começar (a combater o racismo). Você lê os relatos das pessoas negras que sofrem racismo, boa parte do primeiro contato com situações racistas está no ambiente escolar quando a criança sofre violência e bullying. Precisamos de uma educação antirracista”, conclui.

 Egressa do Curso Superior em Tecnologia em Design Gráfico do IFF Campos Centro e produtora do curta-metragem, Diane Lizst acredita que o cinema é uma ferramenta importante para combater o racismo.

 “O problema maior está na educação, porque, se você traz o conhecimento, você liberta. Mas, para trazer o conhecimento, você precisa de descer um pouco e trazer o acesso. Porque, se ficar uma linguagem muito difícil, e a imagem e o audiovisual contribuem com isso, criamos barreiras e não tem função. E como eu quebro isso? Indo para a base. Indo para a população. Porque vamos disseminando de uma forma positiva, chegando e atingindo de uma forma suave. Fizeram isso de forma negativa”, disse.

 O reitor do IFFluminense, Victor Saraiva, e os diretores do IFF Campos Centro Camila Romero (Planejamento) e Cremilson Navarro (Educação Básica e Profissional) participaram da abertura do evento.