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Entrevista/Cíntia Brazorotto

Para pesquisadora, cotas trazem resultados efetivos

por Antonio Barros/Assessoria de Comunicação Social do Campus Campos Centro publicado 19/05/2025 16h33, última modificação 19/05/2025 16h37
Além da educação, a política já ajuda a oferecer diversidade também nos serviços públicos.
Entrevista/Cintia Brazorotto

A professora participou de seminário realizado no IFFluminense (Foto: Antonio Barros).

   A professora Cíntia Magno Brazorotto, do Instituto Federal de São Paulo, esteve no IFF Campus Campos Centro à convite dos organizadores do Seminário Caminhos e Desafios das Políticas de Cotas nos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio do Instituto Federal Fluminense, realizado no dia 14 de maio, para participar da "Mesa de encerramento - As cotas no ensino médio integrado nos Institutos Federais". Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR (2004), mestre em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP (2014) e doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação - FE/UNICAMP (2020), ela atualmente é professora do Instituto Federal de São Paulo - IFSP, exercendo além das atividades de ensino, pesquisa e extensão, também as de gestão escolar. Antes de sua conferência, em que falou de sua pesquisa sobre o tema, a pesquisadora concedeu a breve entrevista a seguir.  

Ascom - A política pública das cotas existe há 12 anos, que tipo de avaliação podemos fazer dela?

Cíntia Brazorotto - É uma política muito importante, de reparação histórica, principalmente quando a gente pensa na questão racial étnica no Brasil e que teve o movimento negro como central, no início, pela inclusão dessa camada da população que estava excluída, principalmente das universidades. Ela tem se mostrado uma política que efetivamente traz resultados, no sentido da inclusão. Lógico que não é a única política de que a gente precisa, tanto que temos um conjunto de políticas afirmativas. Houve uma avaliação em 2022/2023 de que elas têm sido bem-sucedidas. Se a gente olha hoje o perfil dos estudantes - tanto nos institutos federais, no ensino médio e nas universidades - já está bem próximo da população dos estados. 

Ascom - É ainda uma questão polêmica no país, muita gente não entende direito...

Cíntia - Exatamente. A gente tem de pensar que ainda vive na escola, na universidade, uma ideologia do mérito. É aquela ideia assim: quem se esforça chega lá! Só que não se olha de onde cada um parte. Essa é a grande questão. Para chegar lá em pé de igualdade, todo mundo tem de partir do mesmo ponto. Isso não acontece no Brasil. É um país de muita desigualdade social, desigualdades educacionais, então, portanto, essa é uma política de reparação! 

Ascom - Onde se localizam os maiores desafios para a política de cotas? 

Cíntia - Teoricamente, de acordo com a Constituição (Federal), a educação básica é para todos. A gente sabe que não é. Existem diferentes realidades. Se a gente vai para uma escola periférica, a qualidade, as condições de trabalho, de recursos, não são iguais àquelas das escolas centrais, que têm mais investimentos, às vezes professores mais qualificados. Então, aí a gente tem uma questão bastante complexa, como é a nossa sociedade. Mas a gente olhar a questão das cotas, justamente quando tem um processo de seleção. Se a gente olha para as universidades, para os institutos federais, tem uma prova no processo seletivo para ingressar. Normalmente são provas meritocráticas, pautadas no conhecimento prévio. Por isso que elas (as cotas) vão ingressar nessas instituições, para garantir que alguns dos estudantes que não tiveram uma educação de qualidade consigam entrar por meio das cotas. Agora, é óbvio que precisa ter uma melhoria da educação de modo geral. Estadual, municipal, federal. Deveria caminhar junto. Mas de acordo com a realidade de cada local, isso nem sempre acontece.

Ascom - Nós, dos institutos federais, estamos conseguindo avanços?

"Hoje, os institutos federais têm uma proporção de estudantes pretos e pardos igual a dos estados, de acordo com o IBGE, que é o que diz a lei."

Cíntia - Tem havido avanços importantes. Foi uma conclusão a que cheguei na minha pesquisa de que, principalmente quando a gente está falando de democratização, do acesso da população preta e parda. A gente consegue ver que hoje, os institutos federais têm uma proporção de estudantes pretos e pardos igual a dos estados, de acordo com o IBGE, que é o que diz a lei. Agora, há desafios! O principal é a permanência dos estudantes. Políticas de auxílio estudantil ,que deem todo o suporte que esses estudantes precisam é o grande desafio, porque nem sempre há verbas suficientes para atender a demanda deles. Acho que a questão que fica é isso: como aprimorar as políticas de assistência estudantil e garantir que eles possam permanecer até o fim do curso.  

Ascom - Poderemos um dia não precisar mais das cotas para acesso à educação?

Cíntia - A ideia das cotas é de que elas não sejam permanentes, que seja por um período, até que todos tenham acesso a mesma qualidade educacional. Todos possam partir do mesmo lugar. Acho que a gente não consegue vislumbrar isso em tão curto prazo. Mas estamos caminhando, é um avanço importante. A revisão que a gente teve da Lei de Cotas em 2023, que vai incluir, por exemplo, pessoas com deficiência. Agora, a discussão que está ocorrendo, principalmente nas universidades, da inclusão em cursos de pós-graduação, principalmente da inclusão de cotas para pessoas trans e a gente tem de pensar em outros âmbitos em que as cotas podem ocorrer. Por exemplo: em concurso público. Aí a gente consegue ver no serviço público uma diversidade de pessoas, raça, gênero, etnia, que a até pouco tempo a gente não conseguia enxergar.