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Circuito Histórico de Herança Africana, na Zona Portuária do Rio, recebe alunos do IFF Maricá

por Comunicação Social do Campus Avançado Maricá publicado 02/06/2023 17h01, última modificação 02/06/2023 17h01
Visitas guiadas com estudantes do 2º ano de Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio percorreram um caminho de dois quilômetros pela região conhecida como Pequena África.
Visita guiada à Pequena África por alunos do IFF Maricá

Os alunos do IFF Maricá percorreram todo o roteiro da Pequena África

Um verdadeiro museu a céu aberto, a região conhecida como Pequena África, na Zona Portuária do Rio, recebeu cerca de 50 estudantes de Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio do Instituto Federal Fluminense (IFF) Campus Avançado Maricá em duas visitas guiadas, com o apoio do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN) e contadas sob a perspectiva dos povos escravizados ao longo de três séculos no país.

As visitas pelo chamado Circuito Histórico e Arqueológico da Herança Africana aconteceram nesta quarta-feira, 31 de maio, para estudantes do 2º ano de Edificações, dentro do conteúdo da disciplina de Estudos Urbanos, ministrada pela professora Alice Pina, e também na semana anterior, no dia 24 de maio, em atividade organizada pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do campus. A visita do Neabi foi coordenada pela professora Aline Carvalho e voltada a estudantes de diferentes turmas dos Cursos Técnicos Integrados, tendo ainda a participação das professoras Isabela Bastos, mestre em Relações Etnicorraciais, e Daniela de Paula, docente de disciplinas nas áreas de Desenho Arquitetônico e Construção Civil.

"Percorrer esse circuito nos trouxe um dia de grande aprendizado e a oportunidade de expandirmos as fronteiras do debate racial para além da sala de aula, com nossos estudantes respirando novos ares e conhecendo essa região que é tão importante para nossa construção enquanto sociedade brasileira", destacou a professora Aline Carvalho, que é coordenadora do Neabi no IFF Maricá.

O ponto de partida dos dois grupos foi o Largo de São Francisco da Prainha, aos pés da estátua de Mercedes Baptista, primeira bailarina negra do Theatro Municipal e criadora do balé afro-brasileiro. O roteiro seguiu por um caminho de cerca de dois quilômetros, percorrido pelos estudantes e professoras em pouco mais de duas horas e passando por 12 paradas. Entre os locais que atraíram maior curiosidade do grupo, a Pedra do Sal, o Morro da Conceição e o Cais do Valongo, considerado o principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil, até 1831, e que recebeu da Unesco, em 2017, o titulo de Patrimônio da Humanidade.

"A realização do circuito é fundamental para a formação dos alunos como sujeitos críticos e conscientes da história e da cultura da sociedade brasileira, fundada sobre matrizes africanas. O circuito evidencia a dimensão dessa influência a partir do conhecimento de locais que se tornaram patrimônio material e imaterial afro-brasileiro e de sítios arqueológicos que revelam a história brutal da escravização do povo negro, após séculos de políticas de apagamento. O IPN faz um trabalho fantástico de valorização da memória e de proteção desse patrimônio cultural", explica a professora Alice Pina.

Responsável pelo guiamento dos estudantes do IFF Maricá, o técnico em Turismo e guia do IPN Alexandre Cassiano ressaltou a importância do programa de visitação escolar na Pequena África.

"Estar com os estudantes do IFF foi um presente. É muito bom olhar em cada olhar e sentir a energia de todos. Tenho como propósito transformar vidas e, amanhã, serão eles os formadores de opinião que estarão em espaços de poder", destacou o guia, explicando que a visita tem como objetivo gerar conhecimento e espaços de reflexão sobre a formação histórica do Brasil: "Vimos o quanto o nosso povo lutou e o quanto fomos apagados da história e o quanto ainda tentam nos apagar".

Visita incluiu museus da região

O circuito foi finalizado no Museu Memorial dos Pretos Novos, um casarão restaurado onde hoje funciona o sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos. O local funcionou entre os anos de 1772 a 1830 como depósito de corpos de negros escravizados vindos do continente africano, que não resistiam à viagem ou morriam antes de serem vendidos e, hoje, é uma das principais provas materiais da barbárie ocorrida no período mais intenso do tráfico de seres humanos no país.

Aluna do 1º ano de Meio Ambiente e bolsista do projeto Compartilhando Saberes Indígenas (Cosai), Ana Julia de Andrade conta ter ficado emocionada durante o passeio, que até então nunca havia tido a oportunidade de participar.

"A chegada ao Museu Memorial dos Pretos Novos, na parte final da visita guiada, me trouxe um misto de arrepio e emoção, uma sensação de pertencimento e de já ter estado ali antes, como se eu estivesse revivendo aquela história, de forma ressignificada, e não como se fosse algo novo. Todo o passeio foi uma experiência incrível", contou a estudante.

O roteiro percorrido pelo grupo coordenado pelo Neabi incluiu ainda um ponto extra de visitação, o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB), na Gamboa. Localizado no prédio histórico do antigo Colégio José Bonifácio, o museu possui um acervo de cerca de 2,5 mil itens, entre pinturas, esculturas e fotografias, além de trabalhos de artistas plásticos contemporâneos, que dialogam com o território da Pequena África.