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Lideranças em ação antirracista participaram de roda de conversa do Novembro Negro no IFF Maricá

por Comunicação Social do Campus Avançado Maricá publicado 19/11/2021 22h03, última modificação 22/11/2021 17h01
Evento online foi promovido por meio do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do campus, como parte da programação do Novembro Negro do IFF.
Roda de conversa do Neabi do IFF Maricá

O vídeo da roda de conversa está disponível no IFFTube

O papel das lideranças na ação antirracista foi o tema principal de discussões na roda de conversa promovida pelo Instituto Federal Fluminense (IFF) Campus Avançado Maricá na tarde desta sexta-feira, dia 19 de novembro, véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, como parte da programação do Novembro Negro do IFF. O evento online — que conta com atividades em diversos campi do Instituto — aborda este ano a temática “Racismo, antirracismo e emancipação no Brasil contemporâneo” e tem transmissão ao vivo pelo IFFTube, o canal oficial do IFF no Youtube.

Para quem não conseguiu acompanhar ao vivo ou quer rever a roda de conversa, a gravação está disponível AQUI.

A secretária do Conselho da Diversidade Racial de Maricá e uma das criadoras do Coletivo Luz Negra, Marcia Passos, foi quem iniciou o diálogo na roda, fazendo uma contextualização do avanço histórico do movimento, desde os navios negreiros até os dias atuais. Segundo ela, a luta não é de hoje: sempre houve resistência e busca de um espaço mais igualitário na sociedade.

"É importante que as pessoas não negras entendam que, quando a gente reivindica, não estamos propondo a discriminação. Muito pelo contrario, nós buscamos a igualdade. É só olhar as estatísticas. Quantos dos nossos estão nos presídios? Quantos dos nossos têm empregos subalternos? E mais: quantos dos nossos estão nos representando no Congresso?", indagou Marcia.

Para ela, ainda há um longo caminho pela frente: "Se somos 55% da população e temos pouquíssimos representantes entre vereadores, deputados, senadores, juízes... Será que é porque não queremos realmente ocupar esses espaços ou será que é porque ainda existe um sistema perverso que não nos permite acessá-los plenamente? Não é só a discriminação em si, mas um sistema que começa na base, com o não acesso a uma boa educação, a falta de políticas públicas sérias que realmente nos permitam galgar espaços mais altos na escala social", ressaltou.

Violência contra jovens

Edson de Oliveira, que é diretor de Desenvolvimento de Comunidades da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro), em Maricá, escolheu o tema da violência contra jovens negros na Região Metropolitana do Rio para sua fala inicial e usou situações vividas por ele próprio para exemplificar a rotina de um jovem negro no país.

"O negro é um alvo, a cor da sua pele já é por si só um alvo. No Brasil, a legislação penal funciona como uma rede que articula instituições repressoras do Estado. Infelizmente, no nosso país, criou-se um Estado que protege os ricos e pune quase sempre os negros e pobres, em sua maioria jovens de até 30 anos", afirmou Edson, completando: "Quando a gente fala em genocídio, é preciso dar esse nome para entender que o número de jovens negros mortos no Brasil reflete o racismo estrutural presente em nosso país, onde temos um jovem negro assassinado a cada três minutos".

Articulação das lutas

A partir das discussões levantadas por Edson, a presidenta da Unegro em Maricá, Monica Quintão, fez um paralelo da articulação entre as diferentes lutas e também a necessidade de um processo permanente de vigília pelo que já foi conquistado, como as leis de cotas e de obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas.

"As políticas públicas pelas quais a gente já luta há muito tempo vêm sofrendo retrocessos. Estamos em luto e em luta. Perdemos muitos dos nossos irmãos e irmãs nesse processo pandêmico, que foi cruel para todos, não só no Brasil como no mundo inteiro. Mas foram as mulheres negras que mais estiveram presas nesse processo, num sistema de trabalho que as mantinha tomando conta de outras pessoas e fazendo com que perdessem suas próprias vidas", ressaltou Monica, lembrando que foi justamente uma empregada doméstica negra a primeira vítima da Covid-19 no Brasil: "A gente vai continuar brigando pela manutenção das conquistas que tivemos aqui, vamos resistir, as vidas negras importam".

Coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) no IFF Maricá e organizadora da roda de conversa, Catarina Efraim destacou a importância da militância em todo esse processo. Para ela, ter lideranças ativas é fundamental para um avanço constante do movimento negro no Brasil.

"Quem muda a realidade é a parte do povo que teve historicamente e tem ainda a coragem de colocar a cara. Estamos num momento muito complexo da historia do Brasil, mas por outro lado conseguimos enxergar alguns frutos do trabalho do movimento acontecendo. Só de poder ver uma mulher usando o cabelo que ela quiser — num fenômeno recente — já é uma vitória, pois é algo também simbólico para todos nós".

Ampliação das discussões

A abertura de espaços de diálogo, não apenas em eventos formais, também foi destacada pelos participantes da roda. Para eles, termos discussões no dia a dia da sociedade é primordial.

"Estamos com uma geração de jovens bastante ativos nos coletivos e entidades, fazendo essa discussão, provocando esses diálogos. Isso é fundamental porque são essas pessoas que estarão aí para dar continuidade ao trabalho do movimento futuramente", afirmou Monica, seguida por Edson de Oliveira em sua fala: "A luta contra o racismo estrutural precisa ser constante. Por isso, é tão importante prepararmos as próximas gerações".

Diretor de Ensino, Pesquisa e Extensão do IFF Maricá, Mendel Aleluia foi o responsável pela mediação da roda de conversa e ressaltou a importância dos três convidados no avanço do movimento na região.

"O compromisso com a luta antirracista precisa estar em todos, mas ao mesmo tempo é fundamental pensar sobre o papel das lideranças, daqueles que estão a frente desse processo, tanto do ponto de vista pedagógico, quanto da ação direta e objetiva", afirmou o diretor, acrescentando que o Novembro Negro é sempre um momento muito especial para o Instituto, gerando reflexões sobre a inserção, as possibilidades e os limites que estão hoje colocados sobre a população negra brasileira.

O Novembro Negro é realizado pelo IFF como um evento sistêmico, a partir de uma iniciativa do Neabi do Campus Bom Jesus que desde 2013 realiza eventos de grande porte para a promoção de discussões sobre a temática dos povos africanos e afro-brasileiros. Em 2020, devido à pandemia da Covid-19, o Novembro Negro já havia sido realizado totalmente de modo virtual, assim como em 2021. Saiba mais no site do evento, AQUI.