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Aquilombamento Teatro Negro

Atriz de filme indicado ao Oscar 2020 diz que políticas de segurança autorizam racismo

por Vitor Carletti / Comunicação Social do Campus Campos Centro publicado 22/11/2019 17h57, última modificação 25/11/2019 13h13
Bárbara Santos esteve em uma roda de conversa com alunos do Curso de Licenciatura em Teatro no IFF Campos Centro
Aquilombamento Teatro Negro

Lucia Talabi, Bárbara Santos, Mateus Gonçalves (de pé), Gabriel Horsth e Neusinha da Hora participaram da roda de conversa sobre teatro, empoderamento da população negra e racismo.

Um mulher forte, antipatriarcal e que não suporta a sociedade machista. Assim, a atriz Bárbara Santos definiu sua personagem no filme A Vida Invísivel, que foi indicado pela Academia Brasileira de Cinema para concorrer como melhor filme estrangeiro ao Oscar 2020. Ela participou de uma roda de conversa sobre a contribuição dos negros e negras para as artes cênicas no auditório Cristina Bastos do Campus Campos Centro, do Instituto Federal Fluminense (IFF). O bate-papo fez parte da programação do 1º Aquilombamento Teatro Negro promovido pelo Curso de Licenciatura em Teatro.

Bárbara Santos disse que o preconceito contra negros e negras tem aumentado, mesmo com o aumento do acesso deles às universidades. “A gente tem um resultado de um tipo de política que estimulou a ter mais abertura de negros nas universidades, mas também audiovisual e teatro de negros e negras. E a gente tem um aumento do racismo neste momento. Toda política de segurança é de matar pobre e preto.”

Portal IFF - Conta um pouco sobre sua personagem no filme.

Bárbara Santos - Eu faço a Filó, a Filomena. A Vida Invisível é um filme do diretor Karim Aïnouz, que também é o diretor do Madame Satã, Praia do Futuro, um diretor muito premiado. E a Academia de Cinema indicou esse filme para representar o Brasil no Oscar 2020. Então a gente está feliz com uma campanha internacional para ver se o filme chega, porque são muitos filmes do mundo inteiro que concorrem a cinco vagas de Melhor Filme Estrangeiro. Então ainda tem todo um processo. Trata-se da história de duas irmãs que se separam na vida por causa do machismo. Então é um filme sobre a questão de gênero, sobre a invisibilidade das mulheres. E dessas duas irmãs que se separam, uma sai de casa e ela vai conhecer um outro Rio de Janeiro, do subúrbio, um Rio de Janeiro pobre. Aí ela conhece a minha personagem que é uma mulher muito forte, que tem todo um posicionamento antipatriarcal, antimachista, uma mulher muito guerreira na sua comunidade. E essa moça que vem de uma família de classe média, branca, filha de português entra em um outro contexto de cidade. Então, a separação das duas irmãs mostra a cidade partida, que tem dois lados, a cidade que não encontra a outra cidade. Elas passam todo o filme tentando se encontrar nessa cidade que não permite esse encontro.

Como avalia as temáticas do machismo, de gênero e da negritude sendo abordadas hoje no cinema?

Hoje, tudo contra o mundo da cultura. Muita censura o teatro...o audiovisual sofrendo muito com cortes. Neste momento, a gente vê filmes que vêm como fruto de um outro momento histórico, né. E filmes que estão fazendo muito sucesso, Bacurau, por exemplo, não só Vida Invisível, Bacurau é uma produção fantástica, sendo aplaudido no mundo inteiro. Nós, da Vida Invisível, ganhamos o Gran Prix do Un Certain Regard, que é o segundo maior prêmio em Cannes e Bacurau ganhou o prêmio do Júri. Então, é o reconhecimento muito grandioso. Você a contradição desse momento. Internamente a gente está no momento de contenção, que a cultura não está bem-vista. Externamente a nossa produção cultural ganha um reconhecimento enorme. Eu acho que esses filmes e esse momento ajudam a gente a ver essa contradição e a realidade. Esses filmes e esse momento ajudam a gente a ver que algo está errado. Esse filme está falando dessa masculinidade tóxica que agride a vida alheia, essa masculinidade que é violenta e que hoje a gente vê essa masculinidade no poder. Essa maneira de ver o mundo, que você vai ver no filme, você vai ver que essa a base, a semente do fascismo.

Mesmo com o aumento de negros nas universidades, o racismo ainda é muito presente. Por quê?

Voltando para esse tema da contradição. A gente tem um resultado de um tipo de política que estimulou a ter mais abertura de negros nas universidades, mas também audiovisual e teatro de negros e negras. E a gente tem um aumento do racismo neste momento. Toda política de segurança é de matar pobre e preto. No Estado do Rio de Janeiro, a gente está vendo um aumento do número de crianças assassinadas. Esse modelo, que é o da violência, é como se tivesse autorizando o racismo. Autoriza o machismo, o sexismo, o racismo. E estimula.