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I SEMANA DE CIÊNCIAS HUMANAS
O discurso do ódio não é o caminho para se construir o diálogo, afirma pesquisador
Professor de Geografia Linovaldo Miranda debateu com alunos e servidores como ocorreu o crescimento do fundamentalismo nos Estados Unidos e no Brasil. Foto: Vitor Carletti
O acirramento da polarização política e o aumento dos índices de violência no Brasil sustentam a convicção do professor pós-doutor em Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF) Linovaldo Miranda Lemos de que o discurso do ódio presente na sociedade impedirá a construção de um diálogo democrático.
O professor desenvolveu o tema “O discurso fundamentalista norte-americano e as lições para o Brasil” nesta quinta-feira no encerramento da I Semana de Ciências Humanas, que teve como tema os “130 anos de República no Brasil”. A palestra aconteceu no auditório Miguel Ramalho do IFF Campus Campos Centro.
“Não adianta alguém que é de esquerda ou de uma corrente de minoria negar a presença do evangélico, da direita ou do conservador no espectro político. Nem o contrário. Só tem uma sociedade democrática de fato quando você tem o diálogo que é o encontro dessas diferenças que precisa acontecer na escola”, afirmou.
Aumento da violência - O crescimento de 6,8% no número de mortes por armas de fogo, entre 2016 e 2017, divulgado nesta quarta-feira, 5 de maio, pelo Atlas da Violência 2019, foi citado pelo professor. Para ele, o aumento da violência está atrelado ao discurso do ódio.
Por que o senhor acredita que com o discurso do ódio não será possível construir o diálogo?
Linovaldo Miranda Lemos - Eu quis dizer, na verdade, sobre essa dificuldade que a gente tem hoje em dia de conseguir estabelecer diálogo entre pessoas diferentes do espectro político. Quando a gente pensa nessa polarização que existe entre direita e esquerda que está tão forte....na verdade, direita e esquerda não encerram e não explicam toda a polarização que tem hoje na sociedade brasileira. Só quando você conseguir estabelecer algum tipo de diálogo ou ponto comum entre essas posições diferenciadas, é que será possível avançar.
Muitas posições estão vindo com força como questões ligadas a gênero, ao papel da mulher na sociedade, a direitos de minorias e à representatividade dos evangélicos. Então, não adianta alguém que é de esquerda ou de uma corrente de minoria negar a presença do evangélico, da direita ou do conservador no espectro político. Nem o contrário. Só tem uma sociedade democrática de fato quando você tem o diálogo que é o encontro dessas diferenças que precisa acontecer na escola.
O aumento da violência apontado pelo Atlas da Violência 2019 é consequência dessa polarização?
Não tenho dúvidas disso. Eu vou dar um exemplo. Eu posso não pegar um pedaço de pau e ir bater em alguém na avenida Paulista (SP). Eu, fisicamente, não fazer isso. Mas, se eu tenho um discurso de ódio, que secundariza o outro, que considera o outro inferior ao meu jeito de ser, eu de alguma forma eu estou contribuindo. Essa é a grande discussão. Na medida em que eu tenho um discurso de ódio, eu estou dando força para isso.