A partir da experiência vivenciada no colégio politécnico da faculdade de Engenharia da UFRJ, os docentes auxiliam os servidores técnico-administrativos e professores do campus Santo Antônio de Pádua a desenvolver coletivamente um modelo pedagógico baseado na filosofia educacional politécnica e adequado à realidade local. Também conhecida como educação pelo trabalho, a politecnia consiste em um modelo de formação integral que visa superar a tradicional divisão entre trabalho intelectual e manual, desenvolvendo de forma integrada ambas habilidades.

Professores e técnico-administrativos de Pádua participam da capacitação.

 O método escolhido para iniciar a capacitação dos servidores traz implícita a filosofia por trás da politecnia. A partir da leitura conjunta de poemas de autores clássicos da literatura brasileira, os docentes deixaram claro que não estavam ali para fornecer fórmulas prontas, como faz o método educacional baseado na transmissão de informações, mas sim para instigar uma construção coletiva e aberta às potencialidades criativas.

 O diretor de ensino, pesquisa e extensão do campus Pádua, Arthur Rezende, enfatiza que o objetivo da unidade é justamente esse. “Nosso desafio é elaborar uma proposta efetivamente integrada, que transforme o aluno em protagonista do conhecimento. E para isso o trabalho conjunto de professores e técnico-administrativos é essencial”.

 A professora de língua portuguesa Patrícia Schettino encara o desafio de forma positiva. “Leciono há 20 anos e vinha passando por um momento de desgaste com o modelo de educação vigente. Considero esta oportunidade um presente, uma chance de rever minha atuação profissional e ajudar a construir uma escola que seja significativa para os alunos”.

Professores da UFRJ recorrem à poesia para explicar a  filosofia do modelo politécnico

O objetivo é que o campus Pádua - cujas obras encontram-se em fase final - entre em operação em 2015 aplicando o modelo pedagógico. Como explica Artur, o edital do primeiro processo seletivo da unidade foi elaborado com base nessa proposta. A implicação prática dessa decisão é que o candidato não vai escolher um curso no ato de inscrição. Ele vai concorrer a uma vaga para o ciclo básico de formação e, no decorrer do curso, fará opções graduais. No final do primeiro ano, o aluno vai escolher entre os eixos “Controle e Processos Industriais”, “Gestão de Negócios” ou “Infraestrutura". Ao fim do segundo ano, ele vai optar por uma das habilitações do eixo escolhido.

Esta semana os servidores de Pádua estão estabelecendo contato com os aspectos conceituais do modelo politécnico. Na primeira semana de novembro, eles vão visitar as instalações do Colégio Politécnico de Cabo Frio, para conhecer na prática a dinâmica de aprendizagem.

 A capacitação sobre o modelo politécnico faz parte de um processo mais amplo de preparação dos novos servidores, que envolve outros aspectos relacionados ao funcionamento de um instituto de ensino tecnológico. A iniciativa tem a aprovação da assistente de laboratório Rogeria Grillo. “Estamos tendo uma oportunidade preciosa para nossa vivência no IFF”, comenta.

Saiba mais sobre o modelo politécnico

 A politecnia tem como fundamento uma filosofia pedagógica totalmente diferenciada. Como explica o professor Protásio Dutra Filho, ao contrário do modelo de educação tradicional, baseado em disciplinas tratadas de forma isolada, o modelo politécnico se articula em torno de projetos interdisciplinares, que procuram desenvolver habilidades intelectuais e manuais de forma integrada. “A finalidade é promover a formação integral do aluno, rompendo especialmente com a divisão entre trabalho intelectual e manual”.

 Os projetos pedagógicos são concebidos com o propósito de desenvolver no aluno uma postura de investigação. Os professores atuam como mediadores, organizando o processo de aprendizagem, mas o conhecimento só emerge a partir de uma atitude pró-ativa dos alunos. “O conhecimento só existe quando é colocado em prática e não enquanto permanece na estante”, enfatiza Protásio.

 A eficiência do modelo é comprovada por avaliações de âmbito nacional. De acordo com o professor, o colégio politécnico de Cabo Frio é o primeiro colocado entre as escolas públicas da Região dos Lagos na avaliação do Enem e ocupa o 3º lugar na região quando são consideradas também as instituições de ensino privadas.

 Artur explica a abordagem politécnica fazendo referência a um dos temas que a unidade pretende desenvolver: as obras realizadas para amenizar as cheias do Rio Pomba, um problema que afeta a região. Por meio do tema será possível tratar não só questões conceituais relacionadas, por exemplo, ao âmbito da geografia, mas também desenvolver atividades práticas com os alunos.

 No Instituto Federal Fluminense (IFF), além do campus Pádua, as unidades de Cambuci e São João da Barra também estão oferecendo vagas para a modalidade politécnica no processo seletivo de 2015. Veja AQUI o edital.

(Publicada em: 10/10/14)