Reitor Jefferson Azevedo relata experiência que vivenciou no curso de formação de lideranças da Unesco/Unevoc, na Alemanha
(Jefferson recebendo o certificado de conclusão do curso de formação de lideranças da UNESCO/UNEVOC, entregue pelo seu diretor Shyamal Majumbar).
Quais tipos de atividades foram realizadas durante o programa?
JA - O programa foi dividido em três grandes áreas: Visão, Conhecimento e Competências/Habilidades. Primeiro estabelecemos uma visão geral sobre a educação e, mais especificamente, sobre a educação profissional, para que os líderes pudessem convergir na visão dos princípios e conceitos que a Unesco vem desenvolvendo. A segunda etapa foi propor o conhecimento a partir de uma visão, de uma meta, e, para isto, é preciso conhecer, em detalhes, cada um desses pilares que a Unesco trata do ponto de vista da educação e da educação profissional. E a última área teve como objetivo desenvolver as habilidades específicas de gestão e de liderança, entendendo que é importante ter a visão, adquirir o conhecimento para você ter atitudes de transformação.
A programação foi dividida em um conjunto de atividades. Nós tivemos palestras com especialistas da Europa, da América do Norte, do mundo inteiro, além dos líderes da Unesco/Unevoc, que ministraram atividades de integração, individuais, em grupo, compartilhamento de experiências, visitas a empresas, tudo isso para que tivéssemos uma visão estratégica e adquiríssemos conhecimento necessário para a implementação dessas estratégias e habilidades.
O Conif, de fato, passa a ser membro da Unevoc/Unesco? O que isso representará em termos de ações práticas?
JA - Sim. Nós estamos fazendo os trâmites burocráticos e manifestando o desejo do Conif em fazer parte desta Rede, ser um centro Univoc, junto com outros centros do mundo inteiro. Em termos práticos, isso fortalece a ação da política educacional do Conif como um ator importante nesse país, tornando-se parte desse movimento internacional, de uma educação que leva em consideração as particularidades das pessoas, dos países; que entende a educação pública profissional como elemento transformador de vidas e de nações. Nós temos algumas estratégias. Vamos desenvolver um centro de estudos com profissionais de toda a rede para que possamos ter um estudo mais detalhado da realidade brasileira. Isso vai ser muito importante porque teremos vários colegas que irão discutir e debater a educação profissional do Brasil, contribuindo para essa rede internacional, fazendo com que o Conif participe dos congressos e ações da Unevoc no mundo inteiro e levando a realidade brasileira mais ao centro desse debate mundial. Isso também nos permite agora, como parte de um Closter na América Latina, uma aproximação maior com esses países latino-americanos, para discutir a realidade da educação profissional com seus contornos, com sua cultura. O Conif estreita essa aproximação com outros países, dando mais musculatura ao debate nacional sobre a educação, como estratégia de transformação de vidas, de futuro de país. Também dá mais musculatura ao debate político em que nós estamos hoje, com a PEC 241 e reforma do Ensino Médio, que trazem ameaças concretas à expansão da educação pública de qualidade, prejudicando aqueles que dependem diretamente dessa oferta. O Conif, a partir desse movimento em que se relaciona com um órgão internacional e passa a ser um braço da Unesco também aqui no país, aumenta a nossa voz para que possa ser ouvida pelos governos. É papel de um centro Unevoc fazer uma interlocução direta com o governo, e isso nos fortalece e contribui para que o Brasil possa ter as estratégias de educação, de ciência e de tecnologia mais adequadas à nossa realidade.
Como representante do Conif no programa, de que forma você pretende disseminar as informações e conhecimentos adquiridos para os dirigentes da Rede Federal?
JA - A primeira etapa é nos tornarmos um Centro Unevoc aqui no Brasil. Já iniciamos uma série de estratégias para nos filiarmos de maneira efetiva. Estarei no Paraguai, de 8 a 11 de novembro, participando de dois importantes eventos. O primeiro será um workshop para os países membros da sub-região América Latina, que serão grandes parceiros para montar essas estratégias; e o segundo será uma reunião com os representantes regionais dos Centros Unevoc. Em dezembro, na reunião do Conif, vamos apresentar aos dirigentes todos os conceitos e significados de se tornar um Centro do Unevoc para, em seguida, montar cursos e workshops com o objetivo de disseminar as concepções da Educação Profissional e Tecnológica numa perspectiva global. Nós vamos construir momentos com esses agentes de transformação e ajudar a Unesco a cumprir suas metas de construir um mundo sustentável, até 2030. É um período longo, mas vamos instrumentalizar os demais líderes da rede e trabalhar com os professores e estudantes, que são os grandes responsáveis por construir esse mundo.
Você esteve reunido com representantes da Educação Profissional e Tecnológica de diversos países. Como a Educação Pública, Gratuita e de Qualidade é tratada no mundo e como o Brasil é visto nesse cenário?
JA - Ao estudar os documentos da Unesco, da Unevoc, eu vi a semelhança dos princípios desenvolvidos entre esse conjunto de países com o que nós estamos desenvolvendo na Rede Federal, que é o de ajudar as pessoas a superarem suas dificuldades, não só econômicas, mas que possam buscar uma justiça social, que ajudem a promover um mundo melhor para todos. Essas preocupações que a Unesco vem trazendo estão em sintonia com o que nós estamos fazendo. Nós queremos que o Brasil se desenvolva e que cresça, não só economicamente, mas que traga oportunidades para todas as pessoas, onde o filho de um trabalhador, ou os adultos que querem ter uma nova oportunidade de se colocarem no mundo trabalho, vejam, nas nossas escolas, essa possibilidade concreta de mudança de vida e de ajudar o país a superar as suas dificuldades. Para mim, foi uma grata surpresa ao perceber que um órgão da magnitude da Unesco traz esses mesmos conceitos, contrariando algumas visões de que esses órgãos multilaterais tem uma visão apenas do mundo desenvolvido, com uma série de interesses econômicos, mas não. Há uma preocupação muito grande com as dificuldades econômicas, as guerras, os imigrantes, os refugiados, a questão do gênero, enfim, são preocupações que se identificam com as nossas.
A partir de agora, estamos relacionados com uma grande rede, uma grande força mundial para tentar superar os problemas do nosso país e de tantos outros países com problemas bem maiores que os nossos e que nós podemos ajudar. Acho que essa é a grande lição, porque temos um objetivo comum: se o mundo não for sustentável, não será bom para ninguém. Enquanto existir dor, não está bom para ninguém. A Unesco tem esse valor, e a Educação Profissional tem um papel muito significativo para criar as habilidades e as competências nas pessoas para que a gente possa ter um mundo melhor para todos.
Durante o programa você relatou diversas experiências exitosas que foram apresentadas, nas quais as escolas de Educação Profissional cumpriam um papel fundamental no Desenvolvimento Regional. Poderia relatar uma delas?
JA - Dentre as atividades desenvolvidas, tivemos o compartilhamento de experiências entre os gestores e vimos que a Educação Profissional tem conotações distintas em muitos países. Em alguns países como a Jamaica, Filipinas e Ilhas Fiji, as pessoas vivem em uma informalidade muito grande. Não existe um parque industrial desenvolvido, por exemplo. Nesses lugares, a Educação Profissional trabalha preparando as pessoas para o turismo, culinária, artesanato, ou seja, para as vocações que contribuem com o desenvolvimento da região, do país, mesmo que informal. A grande riqueza da Educação Profissional é que ela é muito diversa, multicultural. Muitas vezes, vemos a Educação Profissional ligada apenas aos grandes negócios, às grandes indústrias. Na Alemanha, isso acontece, por exemplo, mas a riqueza dessa modalidade de ensino é preparar as pessoas para aquilo que elas já fazem, contribuindo para o desenvolvimento regional.
O programa teve outros desdobramentos para você? Algum plano futuro?
JA - Primeiramente, eu gostaria de agradecer mais uma vez ao Conif e à Câmara de Relações Internacionais pela oportunidade de ter passado essas duas semanas na Unesco, por terem me indicado para representar o Conif e o Brasil em um evento internacional dessa magnitude. No último dia do curso, disse que, como diretor-geral no campus em que eu atuava, minha preocupação era o desenvolvimento da região. Agora, como reitor, minhas preocupações são maiores. Eu me sinto responsável pelo futuro de todos os campi do nosso instituto, e, na relação com os outros institutos, tenho uma preocupação ainda maior com a educação de todo o país. A partir desse curso, que, para mim, foi um divisor de águas, estarei, junto a outros colegas, à frente da coordenação desse novo centro Unevoc, e a nossa preocupação será também a da América Latina e do mundo todo. É um novo horizonte de possibilidades, de relacionamentos. Vou me desdobrar um pouco mais para levar essa experiência dos nossos institutos para contribuir com o debate mundial da Educação Profissional.
Por outro lado, criamos vínculos para a nossa Rede com outros países, com outras lideranças, com outros órgãos internacionais, criando oportunidades para os nossos professores, para nossos colegas das áreas técnicas da nossa instituição, e, principalmente, para os nossos estudantes, abrindo caminhos para que eles possam estar nessas outras instituições, por meio da nossa Diretoria de Internacionalização, e também vamos receber líderes aqui, no nosso instituto. Essa é uma nova oportunidade que eu estou tendo como representante da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, de abrir novas portas, novos relacionamentos e de nos fortalecer junto a outras instituições que também acreditam na educação como elemento transformador e que a educação profissional, de fato, é que vai oportunizar que as pessoas transformem suas vidas.
Agradeço, mais uma vez, por esta oportunidade que enriqueceu a minha carreira profissional como gestor público, como professor da Rede, como alguém que escolheu ser educador, porque transformar vidas e dar oportunidades para essa transformação é algo que me encanta e que eu tenho como objetivo de vida.
Juliana Lima / Comunicação Social da Reitoria